Regras e diversão: estruturando atividades lúdicas em sala de aula

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Imagine a cena: você planeja um jogo muito divertido para revisar o conteúdo estudado com seus estudantes e já sonha com uma aula superengajada, com seus pupilos todos participando e produzindo em inglês. Um sonho de atividade do educador bilíngue.

 

Realidade: o caos se instala porque seus estudantes não reconhecem os limites entre a diversão e a “bagunça”. Eles acabam se desentendendo, se desrespeitando e até mesmo indo às vias de fato. O que era para ser uma atividade criativa e divertida torna-se uma dor de cabeça.

 

A verdade é que temos regras para muita coisa, mas às vezes nos esquecemos de que precisamos estabelecer limites também para a hora da diversão. Todos os jogos têm suas regras e por isso funcionam e alcançam seu objetivo. Assim deve ser com nossos games nas aulas.

 

As crianças estão na fase de desenvolver a empatia, o senso coletivo, e de compreender como isso é importante para a convivência em sociedade. Tanto a família quanto a escola compartilham a responsabilidade de educar os pequenos, e é na escola que a criança geralmente passa a maior parte do dia. Então, os educadores podem e devem aproveitar essa oportunidade para contribuir ativamente na formação das habilidades sociais, tão necessárias no desenvolvimento do indivíduo.

 

Por meio de jogos e brincadeiras, podemos praticar uma série de competências e habilidades que vão ajudar nossos estudantes a lidarem com situações adversas com inteligência e controle emocional.

 

Para garantir que um jogo ou brincadeira flua bem, alguns passos devem ser seguidos:

 

Defina o objetivo

O que se pretende com essa atividade? O que os estudantes devem alcançar no final? Comece explicando isso aos participantes.

 

Distribua os materiais e divida os grupos somente depois de estabelecer as regras

Do contrário, os estudantes vão se distrair com o material entregue ou já vão começar a combinar estratégias com o grupo, deixando de prestar atenção em você. Por isso, antes de tudo, explique claramente as regras do jogo. E lembre-se de usar ICQs (Instruction Confirmation Questions) para garantir maior absorção dos combinados.

 

Evite dividir grupos por gênero

Dividir grupos de competição entre meninos e meninas parece ser simples e rápido, mas pode causar animosidade, aumentar a chance de desrespeito entre os times e reforçar estereótipos. Além disso, é importante que os estudantes se acostumem a conviver com a diversidade e entender que todos são igualmente capazes, independentemente do gênero ou de quaisquer outras características.

 

Atente-se aos estudantes introvertidos ou que tenham dificuldade com o conteúdo

Por terem menos amigos e por se sentirem mais inseguros, esses estudantes comumente acabam ficando por último na escolha de grupos. Sabemos o trauma que isso pode trazer, o que também pode afastá-los do aprendizado. Observe-os, acolha-os, coloque-os como capitães de time; faça movimentos que os deixem se sentir parte do grupo como qualquer outro estudante. Não se esqueça de estimular a participação desses estudantes e aplicar reforço positivo a cada tentativa e esforço observado.

 

Estabeleça um tempo limite

Não subestime a capacidade dos estudantes de transformarem uma atividade que deveria durar 10 minutos em uma ação de 30 ou 40 minutos. Utilize cronômetros a seu favor e deixe os estudantes cientes do tempo disponível.

 

Registre os “Dos and don’ts”

Escreva na lousa (ou nos slides) o que pode e o que não pode ser feito durante o game, de preferência em bullet points com frases simples e diretas. Isso reduz as chances de você ter de reinventar as regras no meio da atividade porque elas não ficaram claras o suficiente desde o início.

 

Exemplos:

  • Each student will have two chances to answer.

 

  • The other students in the group can’t help.

 

  • You have 15 seconds to think about your answer.

 

  • Raise your hand when you’re ready to answer.

 

  • Do not speak Portuguese.

 

Lembre-se de mencionar as regras sobre a conduta adequada para a hora do game

Seja firme em relação a essas regras, pois durante competições é fácil os ânimos se exaltarem e isso acaba abrindo portas para um possível desrespeito entre os competidores. É importante deixar claro que a falta de respeito não será tolerada. E é fundamental ser objetivo e usar frases como “mocking your friends is not permitted”, “the team that disrespects your opponents will lose a point”, “violence will be heavily punished” etc.

 

Tire um tempo para uma conversa séria caso a atividade desande

O diálogo é a melhor ferramenta para ensinar e aprender. Portanto, se mesmo com as regras estabelecidas o game não tiver o resultado esperado, aproveite-se dessa oportunidade para conversar com os estudantes sobre suas expectativas e como a postura de cada um pode influenciar negativamente ou positivamente nos objetivos do jogo.

 

Uma vez que essas regras sejam estabelecidas na rotina dos estudantes, eles vão se habituar a elas e, em breve, o tempo que você gasta em sala conversando sobre o assunto será cada vez mais curto, pois a postura deles mudará de forma natural.

 

Para além da revisão ou da prática de algum tópico do conteúdo estudado, os jogos são uma excelente oportunidade para ensinar aos estudantes a importância da coletividade, do respeito, da empatia; para trabalhar a mediação de conflitos, a comunicação assertiva e a compreensão de como as regras nos ajudam a conviver melhor em sociedade. Essas competências socioemocionais vão ajudá-los a ser cidadãos conscientes e pessoas com maior capacidade de gerir suas emoções.

 


Referências

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS COM REGRAS PARA A FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL DA CRIANÇA: http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/2166/1/Raissa%20Silva.pdf

 

Como ensinar as crianças a terem respeito às diferenças? https://escoladainteligencia.com.br/blog/como-ensinar-as-criancas-a-terem-respeito-as-diferencas/

 

FABER, A.; MAZLISH, E. Como falar para o aluno aprender. 2. ed. [S.l.]: Summus Editorial, 2005, 248 p.

 


 

Daniela Gontijo

Daniela Gontijo

Assessora pedagógica do Be - Currículo Bilíngue. Graduada em Tradução pela Universidade de Brasília (UnB). Licenciada em Letras - Inglês e Literaturas pela Faculdade Estácio de Sá. Especialista em Docência e Diversidade pela Faculdade Descomplica. Possui certificação Advanced de Cambridge. Educadora há 15 anos, com experiência em docência e coordenação em centros de idiomas e escolas de ensino básico, especialmente em língua inglesa, convivência ética e projeto de vida. Coautora do livro "Inglês de Pais para Filhos", da Editora BOC.

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