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Para além do head, shoulders, knees and toes: o movimento corporal na educação e sua intrínseca relação com as necessidades infantis

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Quem aí já cantou “Head, Shoulders, Knees and Toes” com seu grupo de estudantes ou com seus filhos? Aposto que, ao ler o título deste artigo, você nem conseguiu evitar cantar no ritmo, não é mesmo? É isso o que acontece quando uma canção resiste ao teste do tempo e atravessa – ou melhor, movimenta – diversas gerações.

 

A música “Head, Shoulders, Knees and Toes” é uma canção popular infantil que trabalha com as partes do corpo em inglês de forma divertida e dinâmica. Ela começa com a frase “Head, shoulders, knees and toes” e, em seguida, as crianças são orientadas a tocar cada uma dessas partes do corpo conforme a música e a velocidade prosseguem.

 

Entretanto, por que essa música é tão bem-sucedida educacionalmente e sempre lembrada pelos educadores ao longo dos tempos? De antemão, porque ela contribui para que os aprendizes – pequenininhos ou grandinhos – aprendam o vocabulário e desenvolvam suas habilidades orais com muita diversão e movimento. E, em um mundo em constante evolução, em que as crianças estão cada vez mais atraídas pelas telas e pelos dispositivos eletrônicos, é fundamental destacarmos a importância e a influência que o movimento corporal tem em nossa vida.

 

Assim, neste artigo, exploraremos a relação intrínseca entre o movimento corporal e as necessidades da criança, objetivando conectá-la com a experiência educacional dessa faixa etária tão peculiar que é a infância.

 

Necessidades infantis

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), é considerada criança a pessoa com até 12 anos de idade incompletos; dos 12 aos 18 anos, é considerada adolescente. Dessa forma, entendemos que a criança é um ser com necessidades distintas das dos adolescentes e adultos, por exemplo.

 

As necessidades infantis, como destacado por diversos estudiosos do assunto, desempenham um papel essencial no desenvolvimento das crianças. Jean Piaget, por exemplo, já havia enfatizado a importância de atender às necessidades cognitivas e emocionais das crianças com vistas a proporcionar a elas um aprendizado saudável e benéfico.

 

Sob essa perspectiva, discutiremos, a seguir, sobre alguns aspectos da infância que são bastante oportunos para o contexto escolar, como as necessidades físicas, psicológicas e sociais das crianças. Vale ressaltar que as necessidades são abordadas individualmente para que a leitura seja facilitada, não significando que elas não estejam interligadas e não sejam interdependentes.

 

Necessidades físicas

É fundamental considerarmos, conforme aponta Canfield (2000), a importância que o aspecto motor exerce no decorrer de toda a infância e o quanto a escola, como meio educacional, deve ser responsável por propiciar essa vivência aos estudantes. Freire (1989) também defende o desenvolvimento das habilidades motoras dos aprendizes, afirmando ser esse um universo indispensável à criança tanto em sua relação com o mundo quanto no entendimento dessas relações.

 

Então, um ambiente escolar que envolva a criança em atividades físicas, além de ajudá-la a promover o desenvolvimento muscular, suprindo suas necessidades inerentes de movimento, pode satisfazê-la tornando o movimento uma ferramenta para outros aprendizados, como o da língua adicional.

 

Em muitas ocasiões, o espaço escolar é o único espaço no qual a criança terá para desenvolver essas habilidades sem demais interferências. É fato que a criança de hoje é bastante diferente da criança de outrora, o que não quer dizer que ela, por conta disso, só usufrua de um ambiente propício para o seu desenvolvimento motor. Atualmente, observamos um avanço significativo no desenvolvimento intelectual das crianças e isso se atribui às diversas oportunidades proporcionadas a elas, como o acesso a computadores, internet, televisão, entre outros. No entanto, no que diz respeito ao progresso motor, as crianças enfrentam restrições significativas à sua mobilidade, encontrando-se confinadas em seus lares diante de dispositivos eletrônicos, sobretudo por conta da crescente violência dos centros urbanos. Essa realidade contribui para a limitação do desenvolvimento motor, uma faceta crucial para o crescimento saudável das crianças (GUALBERTO, 2002).

 

Tudo isso sem considerar que crianças ativas têm mais chance de se tornar adultos mais saudáveis, livres de doenças relacionadas à obesidade. Assim, sob essa perspectiva, é imprescindível que haja, na escola, um trabalho pedagógico aliado ao movimento, que beneficiará ambos, educador e estudante, como defendem Marinho et al (2007): “Compreender o caráter lúdico e expressivo das manifestações da motricidade infantil pode ajudar o educador a organizar melhor a sua prática, levando em conta as necessidades das crianças.”

 

Necessidades psicológicas

Os aspectos afetivos e sociais ocupam posição especial no processo de ensino-aprendizagem da criança, pois eles influenciam diretamente no seu desempenho como aprendiz, revelando que nenhuma atividade seria bem-executada se tais aspectos não fossem considerados. Figueira (2010) discute que:

 

Se o sucesso em adquirir a língua pelas crianças não for alcançado ou se o professor não souber trabalhar essa autoestima dos alunos-crianças, poderá gerar uma desmotivação e consequentemente uma inibição ou aversão à língua (FIGUEIRA, 2010, p. 97).

 

Entre os aspectos mencionados, deve-se atentar para a questão da motivação do aprendiz, embora varie de indivíduo para indivíduo. Dörnyei (2005) diz saber por que ela é importante: porque proporciona o impulso inicial para o estudo de uma nova língua, além de orientar as forças que servem de base para o longo e complexo processo de aprender. Segundo o autor, sem motivação suficiente, até mesmo os indivíduos mais habilidosos podem não alcançar seus objetivos.

 

A questão do lúdico em sala de aula também é muito importante para motivar as crianças, além de possibilitar que elas desenvolvam diversas outras habilidades que vêm com o brincar, conceito notável na infância. Marinho et al (2007) dissertam sobre a questão:

 

O brincar pode ser entendido como a capacidade de criar da criança e está relacionado com as suas vivências. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente experienciada. No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e têm um significado diferente daquele que aparentam ter. A brincadeira favorece na criança a melhoria da autoestima e contribui para a interiorização de determinados modelos de adulto presentes nos diversos grupos sociais. (MARINHO et al, 2007)

 

Tendo isso em mente, a brincadeira para crianças, ao contrário do nome, é coisa séria, pois, além de favorecer os aspectos emocionais e afetivos, permite que elas experienciem o mundo em que vivem.

 

Necessidades sociais

Daólio (2003) é um dos autores que pontuam a importância que o corpo exerce nos aspectos sociais do indivíduo como um todo, pois nele:

 

[…] estão inscritas todas as regras, todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contacto primário do indivíduo com o ambiente que o cerca. (DAOLIO, 2003, p.39)

 

Em consonância com esse posicionamento, acreditamos que o movimento corporal é carregado de significados, o que possibilita que ele seja veículo de reflexão sobre as questões sociais de quem o performa, bem como sobre a sociedade em que está inserido. E é muito importante, sobretudo no mundo diverso em que vivemos, que isso seja oportunizado pelo ambiente escolar, pois é decisivo na trajetória da criança não só como estudante, mas também como cidadão. Em outras palavras:

 

A escola que esperamos não é aquela que educa segundo valores da classe economicamente dominante, e sim aquela que prepara sujeitos capazes de conviver e administrar os valores e os acontecimentos modernos, em meio a tantas mudanças de ordem social, política, econômica e filosófica (MARINHO et al, 2007).

 

Logo, é preciso que a escola crie oportunidades práticas que façam os estudantes refletirem sobre a sociedade em que vivem, com vistas a se tornarem sujeitos ativos não só na construção do seu conhecimento, mas em sua construção social, afetiva, corporal e espiritual:

 

Sabemos hoje que educar não é apenas estar preparado para o mercado de trabalho e acumular informações e conhecimento. Pelo contrário, o mundo exige pessoas com uma visão ampla, o que engloba autoconhecimento, desejo de aprender, capacidade de tratar com o imprevisível e a mudança, capacidade de resolver problemas criativamente, aprender a vencer na vida sem derrotar os demais, aprender a gostar de progredir como pessoa total e crescer até o limite de nossas possibilidades, que são infinitas. (MARINHO et al, 2007)

 

Percebemos, então, que a questão motora assume um papel significativo na vida educacional de uma criança, principalmente porque pode ajudá-la a refletir sobre sua condição social e emocional, a fim de ampliar seus horizontes e torná-la muito mais que um bom estudante, mas um ser humano consciente de sua função na sociedade. Dessa maneira, é fundamental que a escola crie situações de aprendizado em que seja possível o trabalho com o movimento corporal em suas mais variadas dimensões, o que vai favorecer a criação de um espaço educacional carregado de significados e reflexões sociais.

 

Portanto, a integração do movimento corporal no ambiente escolar não é apenas uma opção, mas uma necessidade para promover um desenvolvimento abrangente e significativo na vida desses “pequenos grandes” aprendizes.

 


 

Referências

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Câmara dos Deputados, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/7/1990 – ECA. Brasília, DF.

 

CANFIELD, M. S. A Educação Física nas séries iniciais: paralelo entre 15 anos. Revista Kinesis, Santa Maria, n. 23, p. 87-102, 2000.

 

DAOLIO, J. Da cultura do corpo. Campinas, SP: Papirus,1995- 7ª ed. 2003.

 

DÖRNYEI, Z. The psychology of the language learning: individual differences in second langu. O envolvimento de crianças na aula de língua estrangeira. In: ROCHA,

 

FIGUEIRA, C. D. S. O envolvimento de crianças na aula de língua estrangeira. In: ROCHA, Cláudia H. et al. Língua Estrangeira para Crianças: Ensino-Aprendizagem e Formação Docente. Campinas, SP: Pontes. 2010, p. 93-123.

 

FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. 1ª ed. São Paulo: Editora Scipione: 1989.

 

Head Shoulders Knees & Toes (Sing It). Super Simple Songs – Kids Songs. Publicado em 24 de junho de 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZanHgPprl-0. Acesso em: 16 de janeiro de 2024.

 

MARINHO, H. R. B. et al. Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade. Curitiba: IBPEX, 2007, 123 p.

 


 

Monique Spasiani

Monique Spasiani

Assessora pedagógica do Be - Currículo Bilíngue. Licenciada em Letras - Português/Inglês, pedagoga e doutora em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com pesquisa em Educação Bi/Plurilíngue para surdos e ouvintes. Especialista em Libras e Educação de Surdos pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) e em Ensino de Inglês para Crianças pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem experiência como professora de inglês, educadora bilíngue e coordenadora pedagógica. Academicamente, interessa-se por questões relacionadas a ensino de inglês para crianças, análise e produção de materiais didáticos, formação de professores e perspectiva translíngue na educação, sendo autora de livros e artigos nessas áreas.

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