O educador bilíngue em sua pluralidade

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A Educação Bilíngue no Brasil – e como a enxergamos no território nacional – passou por mudanças significativas recentes, e este processo está longe de ter fim. A construção de um documento que apresenta diretrizes para a educação plurilíngue no Brasil demonstra, por si só, a relevância do tema no contexto nacional.

De acordo com o parecer desse documento, para atuar como educador bilíngue da Educação Infantil até o Ensino Fundamental Anos Iniciais, é necessário que o profissional tenha graduação em Letras ou Pedagogia; já para atuar no Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio, o profissional pode ter formação em Letras ou Licenciatura correspondente à sua área de atuação dentro do currículo.

Mas como isso é possível? Quais são os desafios que cada profissional enfrenta? Vamos explorar agora o perfil do educador bilíngue e o que fazer para superar os desafios.

O perfil do educador bilíngue

Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado, o papel do educador bilíngue ganha destaque na formação de estudantes conforme os desafios da sociedade contemporânea. No entanto, para exercer essa função com excelência, é necessário ter um perfil multifacetado e habilidades específicas que vão além do conhecimento linguístico ou de um componente curricular específico.

Em primeiro lugar, o educador bilíngue deve ser fluente nas línguas que serão ensinadas, bem como ter a capacidade de se comunicar de forma clara e precisa tanto na língua de nascimento quanto na língua de instrução. Além disso, é fundamental que o educador tenha um amplo vocabulário em ambas as línguas, a fim de transmitir conhecimento de forma abrangente e enriquecedora, contribuindo para o repertório dos estudantes.

Além do domínio linguístico, o educador bilíngue deve apresentar habilidades pedagógicas sólidas. Ele deve ser capaz de adaptar sua prática às necessidades dos estudantes, utilizando uma variedade de estratégias e recursos didáticos para facilitar a compreensão e favorecer a interação nas duas línguas. Isso implica uma compreensão profunda dos princípios do ensino bilíngue e das estratégias adequadas para cada faixa etária e nível de proficiência dos estudantes.

Flexibilidade e adaptabilidade são qualidades essenciais para o educador bilíngue. Ele deve estar preparado para se ajustar a diferentes contextos e situações, nos mais variados ambientes de aprendizagem, e também para lidar com a diversidade linguística e cultural dos estudantes. A sensibilidade intercultural é fundamental para promover a compreensão e o respeito pela diversidade, além de proporcionar um ambiente inclusivo e acolhedor para todos.

Outro aspecto relevante é a atualização constante do educador bilíngue. As línguas estão em constante evolução e novas abordagens pedagógicas surgem regularmente. Portanto, o educador deve se manter atualizado sobre as tendências e inovações na área de ensino bilíngue, participando de cursos, seminários e momentos formativos. 

O educador bilíngue desempenha um papel fundamental na formação de indivíduos competentes e aptos a enfrentar os desafios de um mundo globalizado. Sua missão vai além de ensinar conteúdo ou língua; envolve a promoção do respeito pela diversidade linguística e cultural, o desenvolvimento de habilidades cognitivas e comunicativas e a formação de cidadãos globalmente conscientes.

Em resumo, o perfil do educador bilíngue exige uma atualização constante. Exige uma combinação única de habilidades linguísticas, pedagógicas e interculturais.  Por meio de seu trabalho dedicado e competente, o educador bilíngue desempenha um papel fundamental na preparação dos estudantes para um mundo cada vez mais global e multicultural.

Quais estratégias os educadores bilíngues podem usar?

Para  educadores com formação em licenciaturas de componentes curriculares específicos, como Biologia ou Geografia:

  • Ao preparar as aulas, utilize um dicionário on-line com função de áudio para ouvir a pronúncia do vocabulário-base que será usado nas aulas.
  • Atente-se ao planejamento e pratique a elaboração de perguntas que envolvam habilidades de pensamento de alto nível, como hipotetizar. Por exemplo:

O que poderia acontecer se o sapo não fizesse parte deste ecossistema?
Como o problema das enchentes poderia ser reduzido nessa parte do rio?
Estudar dois mapas do rio e depois decidir como os colonizadores poderiam ter utilizado a terra fértil no lado oeste do rio.

  • Acompanhe o desenvolvimento do planejamento de Language, caso não atue como educador deste componente curricular. Assim, você terá mais informações a respeito das construções linguísticas que os estudantes estão desenvolvendo e praticando no momento, podendo alinhar as expectativas para a produção em língua adicional. 

Para educadores com formação em Letras:

  • Utilize fontes on-line seguras ou livros relacionados ao componente curricular em inglês ou na língua materna a fim de se aprofundar nos conceitos que os estudantes precisarão entender.
  • Atente-se ao planejamento, prepare perguntas que exijam habilidades de pensamento – tanto de baixo quanto de alto nível – e preveja as perguntas que os estudantes possam fazer sobre os tópicos apresentados.
  • Estude a BNCC do componente curricular que leciona. Os verbos de domínio cognitivo nos informam a respeito do grau de aprofundamento de cada conteúdo e norteiam práticas pedagógicas.


Para ambos os educadores:

  • Acompanhe as aulas de outros educadores mais experientes ou com habilidades que possam facilitar o seu desenvolvimento pedagógico e acadêmico.
  • Se possível, faça planejamentos em conjunto, de modo que ambos se beneficiem da expertise um do outro.
  • Para os educadores parceiros do Be, considerem utilizar os muitos recursos de suporte que já existem na Beyond by Be, nossa plataforma docente,  fazendo as adequações necessárias para seu contexto.  


Ao adotar essas estratégias, os educadores podem superar os desafios em busca de uma Educação Bilíngue de qualidade. A colaboração entre os profissionais com formação de língua e de outros componentes curriculares é fundamental para criar uma experiência de aprendizagem integrada e significativa. 

Rafaella Rapini

Rafaella Rapini

Coordenadora de Formação do Be - Currículo Bilíngue. Graduada em Letras/Licenciatura pela UFMG e especialista em Educação Bi/Multilíngue pelo Instituto Singularidades. Graduanda em Pedagogia. Educadora há 15 anos, com experiência em docência, coordenação e assessoria pedagógica em escolas de idiomas e escolas da educação básica. Formadora de educadores certificada. Possui certificações CAE, CPE, TKT Full e TKT Young Learners de Cambridge.

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