Da ZDP à acessibilidade personalizada: a IA a serviço da intencionalidade pedagógica e do desenvolvimento integral na Educação Infantil.
O brincar como direito e linguagem de aprendizagem
O brincar já faz parte do currículo da Educação Infantil, sendo, inclusive, um direito de aprendizagem previsto em lei. Mais do que um passatempo, o ato de brincar é essencial ao desenvolvimento integral das crianças, pois amplia o acesso a produções culturais, experiências sensoriais, emocionais e cognitivas.
No contexto da Educação Infantil Bilíngue, esse princípio não se altera. O aprendizado deve ser uma experiência orgânica, contextualizada e prazerosa, garantindo acessibilidade e participação plena de todas as crianças, conforme assegurado pela legislação educacional brasileira.
O brincar, portanto, emerge como linguagem natural da infância e poderoso mediador pedagógico, capaz de costurar a inclusão e a aquisição bilíngue significativa. Brincar com diferentes parceiros, em múltiplos espaços e tempos, favorece o desenvolvimento dentro da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), em que todas as crianças — independentemente de seu ritmo ou necessidades educacionais — se sentem seguras para ir além de seus limites e construir fluência na nova língua de forma leve e significativa.
A personalização do brincar e o papel da IA
A diversidade da sala de aula moderna impõe um desafio constante ao educador: como garantir que a ZDP seja personalizada para cada criança? É nesse ponto que a Inteligência Artificial (IA) entra em cena — não para substituir a interação humana, mas para potencializar a intencionalidade pedagógica do educador.
Como ferramenta de mediação e acessibilidade, a IA oferece suporte técnico e adaptativo, transformando o brincar bilíngue em uma experiência verdadeiramente inclusiva. Dessa forma, ela ajuda a concretizar o direito educacional de cada criança de acessar o currículo bilíngue em sua plenitude.
IA e o conceito de ZDP ampliada
Segundo Vygotsky, a aprendizagem ocorre na interação intencional entre a criança e o “Outro Mais Capaz” (MKO), que pode ser um colega, pai ou professor. Hoje, a IA surge como um MKO digital, capaz de mediar a resolução de problemas e estender as capacidades cognitivas da criança — um conceito que chamamos de ZDP ampliada.
De acordo com a UNESCO, a IA na educação representa uma simbiose dinâmica entre sistemas computacionais e pedagogia humana, promovendo um ambiente de aprendizagem adaptável e centrado na criança. Seus pilares são:
- Aprendizagem adaptável – ajusta o ritmo de cada aluno, oferecendo desafios adequados à sua ZDP.
- Suporte cognitivo e socioemocional – fornece feedback imediato e contextualizado, fortalecendo a autoconfiança.
- Interação multimodal – garante acessibilidade, adaptando o formato das atividades para diferentes necessidades.
- Análises preditivas – apoiam o professor com dados e insights que ajudam a identificar lacunas de aprendizagem.
Assim, a IA atua como um artefato mediador, ampliando o alcance do professor e tornando a personalização e a inclusão uma realidade prática na sala de aula.
IA como ferramenta de mediação e acessibilidade
A Inteligência Artificial pode personalizar o brincar para crianças com diferentes necessidades. Por exemplo:
- Aplicativos adaptativos ajustam o nível de linguagem em tempo real.
- Jogos com prompts visuais favorecem a participação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
- Assistentes de voz bilíngues garantem acessibilidade a crianças com deficiência auditiva ou atraso de fala.
Essa tecnologia atua como parceira silenciosa do educador, transformando o desafio de atender à diversidade em uma oportunidade concreta de inclusão.
Em jogos bilíngues, a IA pode ajustar automaticamente a velocidade da fala ou a complexidade gramatical, assegurando que crianças com ritmos distintos de aprendizagem se mantenham engajadas sem frustração.
Além disso, a IA oferece suporte multimodal, atendendo às mais diversas necessidades.
- Para crianças com TEA, pode gerar scripts sociais interativos e previsíveis, reduzindo a ansiedade e favorecendo a comunicação.
- Para alunos com deficiência auditiva, pode transcrever comandos orais e traduzir expressões para Libras em tempo real.
Mais do que adaptar o conteúdo, a IA atua como tutor cognitivo, oferecendo análises preditivas sobre erros e acertos durante o brincar. Essas informações permitem que o professor identifique lacunas de aprendizagem e realize intervenções pedagógicas mais precisas.
A intencionalidade pedagógica e o uso ético da IA
A IA não substitui o educador. Cabe ao professor garantir que seu uso seja intencional, ético e humanizador — mantendo a interação social e a negociação de sentidos no centro do processo educativo.
O brincar, especialmente na Educação Infantil Bilíngue, é um ato de inclusão e descoberta. Quando somamos a intencionalidade pedagógica do professor ao potencial adaptativo da IA, criamos ambientes mais equitativos e acessíveis, onde cada criança pode expressar sua singularidade.
A IA oferece a oportunidade de quebrar barreiras linguísticas e cognitivas, personalizando o desafio e garantindo o direito educacional à participação plena.
Mais do que “tecnologizar” a infância, trata-se de humanizar a tecnologia — colocando-a a serviço do desenvolvimento integral.
Reflexão final
A sala de aula do futuro não será aquela cheia de gadgets, mas sim aquela em que o olhar atento do professor utiliza o brincar e a IA para validar a singularidade de cada criança.
O convite é claro:
Como podemos, enquanto educadores, usar a Inteligência Artificial para garantir que o brincar bilíngue seja um direito real de todas as crianças?

