Qual a idade ideal para aprender uma nova língua? Estudar duas línguas ao mesmo tempo atrapalha o aprendizado uma da outra?
Existe uma série de dúvidas que sempre surgem quando falamos em educação bilíngue e, em um mundo cada vez mais conectado, falar sobre o bilinguismo infantil tem despertado o interesse cada vez mais dos pais, educadores e profissionais ligados à educação.
Pesquisas já mostram que atualmente o número de crianças crescendo em ambientes bilíngues no mundo seja comparável ou até ultrapasse o número de crianças que crescem em ambientes com somente uma língua¹. Além disso, o ensino bilíngue na infância ainda é pouco compreendido e visto com enorme cautela por alguns. Devido à falta de familiaridade e de conhecimento, pais e educadores muitas vezes têm dúvidas e temem consequências negativas a partir da exposição das crianças a duas línguas ainda cedo.
Qualquer criança, dentro dos padrões da normalidade cognitiva e respeitadas as características de sua idade, são capazes de aprender duas ou mais línguas, desde que contem com suficiente exposição à língua, em contextos linguísticos variados e ricos.
Mas estudar duas línguas ao mesmo tempo pode comprometer o aprendizado?
A resposta é não! Desde que haja exposição e interação com adultos ou crianças mais velhas em quantidade e qualidade suficiente, as crianças bilíngues aprendem a segunda língua dentro do mesmo período de tempo que uma criança monolíngue leva para adquirir uma língua. As crianças bilíngues adquirem duas línguas e se tornam capazes de usá-las com propriedade e naturalidade, nas situações cotidianas mais diversas.
É importante lembrar que existem diferenças na velocidade com a qual as crianças atravessam esses processos e isso não necessariamente representa um atraso no desenvolvimento linguístico.
E a criança não fica confusa ao aprender várias línguas ao mesmo tempo?
Na verdade, este processo propicia à criança uma experiência cognitiva muito mais rica, ela se torna capaz de organizar a estrutura linguística das duas línguas. Resumidamente, a criança passa a se comunicar perfeitamente em uma e em outra, mesmo que as línguas tenham estruturas bem diferentes, como, por exemplo, o inglês e o português brasileiro.
O fato de a criança misturar as línguas ao usá-las não significa que uma língua está atrapalhando a outra.
De toda forma, é muito comum que a criança misture as línguas vez ou outra, principalmente quando está conversando com uma pessoa que, assim como ela, compartilhe as duas línguas. À medida que a proficiência vai aumentando isso ocorre cada vez menos.
Em suma, o fato de a criança misturar as línguas ao usá-las não significa que uma língua está atrapalhando a outra.
A aprendizagem concomitante de duas línguas não atrapalha o desenvolvimento linguístico ou cognitivo da criança, e o que muitas vezes pode ser inicialmente percebido como confusão é uma característica normal do processo de desenvolvimento da linguagem.
Aprender uma língua é também aprender a cultura a ela associada, o que amplia os horizontes da criança, fazendo-a ver o mundo sob perspectivas diferentes, incorporando aqueles valores associados a outra cultura, de modo a desenvolver menos pré-julgamentos, menos preconceitos, aceitando as diferenças.
Para seu crescimento afetivo, social e cognitivo, isso é incomensurável.
¹ > Exame das funções executivas. L. Malloy-Diniz e outros, em Avaliação neuropsicológica. Artmed, 2010.