Ensinar a Geração Z: como engajar estudantes do Ensino Médio hoje

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Vivemos uma das transformações educacionais mais profundas das últimas décadas — e ela tem nome, rosto e muita personalidade: a Geração Z.

 

Formados em meio à hiperconectividade, à pandemia e a um cenário social em constante mudança, os adolescentes do Ensino Médio carregam uma complexidade que desafia e, ao mesmo tempo, inspira educadores em todo o Brasil.

 

Mas afinal, como se conectar com essa geração? Como ensinar e aprender com ela, respeitando suas características sem perder a profundidade e os objetivos formativos?

 

Quem é a Geração Z?

Os adolescentes de hoje não são mais os mesmos de dez ou vinte anos atrás. Enquanto os jovens dos anos 1990 cresciam em um mundo analógico — com televisão aberta, ligações em telefone fixo e brincadeiras na rua — a Geração Z (nascida entre 1995 e 2010) cresceu imersa em telas, redes sociais e informação em tempo real.

 

Segundo Jean Twenge (2017), “cada geração se forma em um mundo diferente, com seus próprios valores, ansiedades e linguagens”.

 

Essa diferença gera um choque de expectativas nas escolas: educadores se deparam com estudantes que desejam mais propósito, escuta e personalização — mas que também apresentam traços como ansiedade, imediatismo e baixa tolerância à frustração.

 

👉 Reflexão para educadores: como você tem percebido as mudanças no perfil dos seus estudantes nos últimos anos?

 

Como a Geração Z aprende?

A neurociência já mostrou que atenção, emoção e vínculo são fundamentais para o aprendizado. Estudantes do Ensino Médio precisam de:

 

  • Estímulos concretos
  • Feedbacks rápidos
  • Atividades com propósito

 

Gostam de desafios, mas rejeitam tarefas repetitivas e sem significado.

 

“O cérebro adolescente responde melhor a experiências que ativam emoções e têm conexão com sua realidade.”
— Jensen, F. E. (2015)

 

Precisamos mudar a forma de ensinar?

Sim! E isso não significa abandonar o que funciona, mas ampliar o repertório de estratégias para atender a essa nova geração.

 

Três abordagens pedagógicas podem nos ajudar a pensar o Ensino Médio de forma mais ampla e sensível às necessidades dos estudantes:

 

Pedagogia tradicional

Ainda tem seu lugar, baseado na condução direta do educador, com foco na transmissão de conteúdo.

 

Andragogia

Inspirada na educação de adultos, aposta na experiência, no diálogo e em problemas reais como ponto de partida para o aprendizado.

 

Heutagogia

Mais recente, defende a autonomia do estudante e o protagonismo na construção do próprio percurso de aprendizagem.

 

No Ensino Médio, essas abordagens não são excludentes. Pelo contrário: podem (e devem) ser combinadas. Em momentos iniciais, estratégias mais diretivas podem ser importantes. Em discussões e projetos, vale acionar a andragogia. Já em desafios mais abertos, a heutagogia pode ser um grande motor de engajamento.

 

Segundo Hase & Kenyon (2000), quando os estudantes assumem mais responsabilidade, desenvolvem pensamento crítico, autonomia e propósito.

 

O que motiva a Geração Z?

É comum ouvirmos frases como “eles não se interessam por nada” ou “só ligam para o celular”. Mas será que estamos oferecendo estímulos compatíveis com seu mundo?

 

Motivações reais

  • Propostas com sentido
  • Reconhecimento sincero
  • Espaço para autonomia com apoio

 

Fantasias desmotivadoras

  • Idealização do “estudante perfeito”
  • Comparações constantes
  • Punições públicas ou falta de escuta

 

Gestão de sala e vínculo com os estudantes

Estudantes do Ensino Médio não respondem bem a posturas autoritárias ou rígidas sem justificativa. Isso não significa permissividade, mas sim coerência e acolhimento.

 

Algumas práticas que funcionam muito bem:

 

  • Regras negociadas (e mantidas com consistência)
  • Acordos de convivência visíveis
  • Dinâmicas curtas e envolventes (debates, quizzes, jogos)
  • Momentos reais de escuta: o que eles pensam sobre a escola?

 

“A autoridade do educador não está em impor, mas em conduzir com sentido.”
— Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia

 

A importância das habilidades socioemocionais

Educar no Ensino Médio também é preparar para o mundo. Isso inclui desenvolver:

 

  • Autoconhecimento
  • Empatia
  • Organização emocional
  • Resiliência

 

👉 Dica: integre essas habilidades aos objetivos curriculares com rodas de conversa, projetos colaborativos e atividades reflexivas.

 

E em contextos bilíngues?

Em escolas com currículo bilíngue, surgem novas camadas de desafio — e também de oportunidade.

 

Muitos estudantes do Ensino Médio têm baixa proficiência no segundo idioma, mas isso não significa que não possam se expressar, se engajar ou aprender. O segredo está em ajustar expectativas e usar o idioma como ferramenta de acesso ao conhecimento, e não como barreira.

 

Algumas práticas que funcionam bem nesse contexto:

 

  • Storytelling: narrativas simples com vocabulário contextualizado favorecem a compreensão e a expressão oral.
  • Projetos significativos e contextualizados: atividades que conectam o uso da língua a situações reais e temas do interesse dos estudantes.
  • Tarefas integradas: uso de imagens, vídeos, mapas visuais e exemplos concretos que complementam o uso do idioma.
  • Valorização do processo: mais importante que a fluência perfeita é a disposição em se comunicar, tentar e aprender com os erros.

 

Quando bem conduzido, o cCurrículo bBilíngue se torna uma oportunidade poderosa de ampliar repertórios — acadêmicos, culturais e pessoais.

 

E agora?

Educar a Geração Z exige mais do que tecnologia ou novas metodologias. Exige presença, curiosidade e adaptação — sem abrir mão da essência do educador: formar seres humanos capazes de pensar e transformar.

 

👉 Pergunta final: qual pequena mudança você pode fazer amanhã para tornar sua sala de aula mais conectada com seus estudantes?

 

Referências

  • Freire, P. (1996). Pedagogia da Autonomia. Paz e Terra.
  • Hase, S. & Kenyon, C. (2000). From Andragogy to Heutagogy.
  • Jensen, F. E. (2015). O cérebro adolescente. HarperCollins.
  • Twenge, J. M. (2017). iGen. Atria Books.

 


 

Juliana Salomão

Juliana Salomão

Juliana Salomão é Assessora Pedagógica no Currículo Be. Licenciada em Letras (Português/Inglês) e bacharel em Comunicação Social, é especialista em Ensino de Língua Inglesa e possui formação em Saúde Mental e Desenvolvimento Humano. Com vasta experiência em sala de aula no contexto bilíngue, hoje atua apoiando educadores na implementação prática e sensível do currículo bilíngue. Curiosa e comprometida com o desenvolvimento humano, atuou com turmas do Ensino Médio como educadora bilíngue e responsável pelas áreas de educação socioemocional e projeto de vida, tanto no período pré quanto no pós-pandêmico. Ao longo desse percurso, teve que se adaptar — e estudar — novas formas de ensinar, aprender e se conectar com os adolescentes em transformação.

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