Desafiando crenças limitantes no ensino bilíngue: desperte seu potencial educacional 

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O ensino bilíngue, ao unir culturas e línguas diferentes em um ambiente de aprendizado, é um campo que transcende as fronteiras educacionais tradicionais. Educadores bilíngues desempenham um papel crucial na formação de estudantes que se tornarão cidadãos globais, capazes de navegar com confiança em um mundo multicultural e multilíngue. No entanto, mesmo os educadores mais dedicados nesse campo podem ser afetados por crenças limitantes que venham a restringir seu desempenho e inibir o potencial educacional dos estudantes.

 

Mas o que são crenças limitantes no contexto do ensino bilíngue?

Quando falamos sobre crenças limitantes no contexto do ensino bilíngue, estamos nos referindo a ideias enraizadas que os educadores podem ter sobre a própria capacidade e sobre o potencial dos estudantes em um ambiente de aprendizado multilíngue. Essas crenças podem se manifestar de diversas formas e representar barreiras significativas para o processo de ensino e aprendizado.

 

As crenças limitantes têm origens diversas. Muitas vezes, percebemos que tais crenças vêm de um processo de formação na graduação que não prepara os educadores para ensinar em contextos ao mesmo tempo específicos e múltiplos. Outras vezes, elas são moldadas por experiências passadas, como situações em que o educador se sentiu inadequado ao ensinar em um ambiente bilíngue. Em alguns casos, podem ser influenciadas por pressões externas, como expectativas sociais ou padrões de desempenho. Em outros, a própria complexidade do processo de ensino bilíngue pode gerar dúvidas sobre a eficácia do método.

 

Desafios comuns no ensino bilíngue e crenças limitantes associadas

Nesses quase 20 anos na Educação Bilíngue, percebo muitas dessas crenças como recorrentes. Algumas delas também me assolavam no início da carreira, mas tive a sorte de encontrar gestores que me ajudaram a superá-las. Com esse mesmo intuito, trago aqui algumas crenças limitantes recorrentes, com exemplos para ilustrá-las.

 

“Minha fluência na segunda língua não é suficiente para ensinar.”

Essa crença pode surgir de uma comparação constante com outros educadores bilíngues ou de um perfeccionismo excessivo. Ela pode levar à insegurança e à falta de confiança em sala de aula.

 

Exemplo

Imagine um educador bilíngue que, embora tenha uma excelente fluência na segunda língua, hesita em usar expressões mais complexas por medo de não ser compreendido pelos estudantes. Essa crença limitante pode impedi-lo de desafiar os estudantes a expandirem o próprio vocabulário.

 

“Alguns estudantes podem ter dificuldades extras no aprendizado bilíngue.”

Essa crença pode resultar de experiências passadas ou da preocupação com a complexidade do processo de aprendizado em duas línguas. Com isso, ela pode limitar a capacidade do educador de encontrar estratégias eficazes para todos os tipos de aprendizes.

 

Exemplo

Um educador pode acreditar que estudantes com um histórico linguístico menos favorável podem ter mais dificuldade de aprendizado no contexto bilíngue. No entanto, ao adotar estratégias diferenciadas e promover um ambiente inclusivo, é possível superar essas barreiras.

 

“A fluência na segunda língua é o único indicador de sucesso.”

Essa crença pode surgir da pressão para que os estudantes alcancem um alto nível de fluência rapidamente. No entanto, desconsidera outras formas igualmente valiosas de progresso no aprendizado bilíngue.

 

Exemplo

Um educador pode focar exclusivamente na fluência verbal dos estudantes como medida de progresso no aprendizado bilíngue, ignorando outras formas valiosas de avanço, como a habilidade de compreender textos ou de se comunicar de forma escrita.

 

“Minha formação é em Letras, não sei dar aula de outros conteúdos.”

Essa talvez seja uma das mais recorrentes. Alguns educadores ainda pensam que não são capazes de lecionar outros componentes curriculares além da língua adicional em si. Essa crença coloca, de imediato, uma barreira para o crescimento e desenvolvimento profissional desses educadores.

 

Exemplo

Um educador com formação em Letras pode sentir-se inseguro ao ministrar aulas de Ciências. No entanto, ao buscar recursos didáticos adequados e colaborar com outros profissionais, é possível proporcionar uma Educação Bilíngue mais rica e abrangente.

 

Como superar essas crenças limitantes no ensino bilíngue?

Ainda que pareça óbvio, preciso dizer que a superação de crenças limitantes no ensino bilíngue é essencial para liberar o verdadeiro potencial educacional. Na sequência, compartilho algumas estratégias que costumo aplicar para ajudar os educadores a desafiarem e transformarem essas crenças.

 

1. Aprimoramento da proficiência linguística

O educador pode se matricular em um curso avançado na segunda língua e também participar de grupos de discussão ou clubes de leitura para aprimorar suas habilidades de comunicação. Sem tempo ou sem dinheiro para investir? O próprio planejamento das aulas, quando feito do modo aprofundado como se deve, é uma excelente oportunidade de expandir o repertório linguístico em todas as habilidades da linguagem. Principalmente quando se trata de outros componentes curriculares, o profissional abre uma série de possibilidades para desenvolver sua proficiência simplesmente colocando em prática uma das funções mais elementares da docência: o planejamento.

 

2. Criação de um ambiente inclusivo

O educador pode promover atividades que valorizem as diversas formas de expressão dos estudantes, incentivando-os a se comunicar em ambas as línguas de maneira autêntica, respeitosa e natural. Além disso, é importante que práticas que disseminem o uso da língua em toda a escola, ainda que de maneira simples, sejam encorajadas e tornem-se parte da cultura da escola. Comunicações visuais na língua adicional, construção de murais que envolvam as diferentes formas de expressão, um corpo de profissionais que se motivem a usar um simples “Hello, good morning!”, já trazem grandes avanços para um ambiente bilíngue acolhedor e formativo.

 

3. Foco no desenvolvimento de habilidades

Além de trabalhar na fluência oral, os educadores devem dedicar algum tempo para desenvolver habilidades de escrita em ambas as línguas, proporcionando uma abordagem mais abrangente ao aprendizado bilíngue. É preciso também pensar em abordagens que desenvolvam as habilidades sociais, de pesquisa, de interação e de vivência na língua de modo contextualizado, significativo e natural.

 

4. Incorporação de estratégias multilíngues

O uso de técnicas translíngues de forma consciente e estratégica pode facilitar a compreensão e o aprendizado dos estudantes. Isso é bem diferente do que ficar traduzindo para a língua de nascimento tudo o que é dito na língua adicional. Aqui, falamos de práticas de scaffolding que respeitam os diferentes momentos de desenvolvimento linguístico de cada estudante.

 

5. Compartilhamento de experiências com a comunidade

Uma boa assessoria pedagógica, comprometida com o desenvolvimento integral dos educadores, tem grande impacto, uma vez que esses profissionais se colocam abertos à troca de experiências. Outra ação que agrega muito é a observação de aulas dos demais colegas, principalmente em segmentos ou componentes curriculares com os quais não estão muito familiarizados. Participar de grupos de discussão on-line, momentos formativos ou encontros presenciais ou remotos com outros educadores bilíngues pode proporcionar um espaço para trocar experiências, desafios e estratégias bem-sucedidas.

 

Liberte o seu potencial educacional bilíngue

Ao desafiar e superar crenças limitantes, os educadores bilíngues podem liberar um potencial educacional inexplorado tanto em seus estudantes quanto em si mesmos. Cada estudante merece um educador que acredite em seu potencial de aprender e de prosperar em um ambiente multilíngue. Então precisamos acreditar que nós, educadores, também somos eternos aprendizes.

 

A jornada do ensino bilíngue é uma oportunidade contínua de aprendizado e crescimento. Ao abraçar esse desafio e desmantelar crenças limitantes, os educadores bilíngues podem inspirar não apenas a competência linguística, mas também o entendimento intercultural e a confiança em um mundo cada vez mais globalizado. Juntos, podemos moldar um futuro brilhante e inclusivo para os cidadãos globais.

 


 

Pedro Brandão

Pedro Brandão

Head pedagógico do Be - Currículo Bilíngue. Formado em Letras pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e pelo Marietta College (EUA). Especialista em Educação Bilíngue pelo Instituto Singularidades, com certificado CELTA pela Stafford House (UK). Educador há 18 anos, com experiência em docência, coordenação, assessoria pedagógica e gestão escolar em centros de idiomas, escolas bilíngues e internacionais (IB). Educador e formador de educadores em escolas brasileiras de ensino básico, da Educação Infantil ao Ensino Médio.

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