Muitos são os mitos sobre o funcionamento do cérebro e a sua relação com a Educação Bilíngue na infância, tais como a ideia de que aprender dois idiomas na infância pode confundir as crianças ou até mesmo a crença de que a apresentação de um novo código pode prejudicar seu desenvolvimento. Dentro do campo das neurociências, diversos trabalhos acadêmicos apontam contribuições positivas da experiência bilíngue para a cognição na Educação Infantil e desmentem grande parte dessas afirmações.
Início da vida escolar, é na Educação Infantil que as crianças são expostas pela primeira vez a diferentes tipos de registros, estruturas linguísticas e recursos com o foco na comunicação com o outro. Durante o aprendizado que ocorre ao mesmo tempo em dois idiomas, é muito comum que as lacunas de vocabulário e estruturas que a criança bilíngue apresenta em uma língua sejam preenchidas por seu conhecimento e apropriação da segunda língua de instrução, ilustrando assim uma maior versatilidade comunicativa. Stocco e colaboradores (2012) sugerem que a experiência bilíngue de selecionar um idioma, enquanto inibe o outro, molda as estruturas cerebrais envolvidas e por isso o bilinguismo é capaz de “treinar o cérebro”, para atividades em que é necessário controle inibitório.
O gerenciamento da atenção também é outra vantagem, uma vez que na Educação Infantil propormos que os pequenos passem a dedicar sua atenção em uma tarefa por vez, mantendo o foco. Estudos sugerem que uma pessoa bilíngue desenvolve estratégias para escolher e fazer uso de um dos idiomas que compõem seu repertório linguístico tendo em vista a situação comunicacional na qual se encontra. Para tal, é necessária a atuação de um mecanismo que age na área pré-frontal do cérebro que inibe o que não é o ideal para o contexto da situação, demonstrando que se pode ignorar uma informação interna (Marzecová et al., 2013).
Como se vê, os benefícios de um sistema educacional bilíngue são inegáveis e perenes. As crianças desenvolvem não só mais um recurso comunicativo importante para se conectar e interagir com o mundo, mas também suas habilidades cognitivas, sociais e emocionais.
Referências
Marzecová, Anna & Bukowski, Marcin & Correa, Angel & Boros, Marianna & Lupiáñez, Juan & Wodniecka, Zofia. (2013). Tracing the bilingual advantage in cognitive control: The role of flexibility in temporal preparation and category switching. Journal of Cognitive Psychology. 25. 1-19. 10.1080/20445911.2013.809348.
Stocco, Andrea & Yamasaki, Brianna & Natalenko, Rodion & Prat, Chantel. (2012). Bilingual brain training: A neurobiological framework of how bilingual experience improves executive function. International Journal of Bilingualism. 18. 10.1177/1367006912456617.