Brincadeira que ensina: Play-Based Learning e suas contribuições na primeira infância

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Brincar: palavra derivada sufixal de “brinco” – do latim vinculum, que significa “fazer laços, ligar-se”. Brincar é tão importante para o desenvolvimento de uma criança que se tornou um direito de aprendizagem. De acordo com a ciência, o brincar leva ao desenvolvimento de áreas importantes, como memória, imaginação, atenção, habilidades sociais, criatividade, autonomia e capacidade de reflexão e resolução de problemas.

 

E como será que um brincar mais livre, escolhido pelas crianças e do jeito delas, pode se tornar uma ferramenta incrível para o desenvolvimento de conhecimento, inclusive linguístico? Por meio do PLAY-BASED LEARNING.

 

O que é Play-Based Learning (PBL)?

O aprendizado baseado em brincadeiras é uma abordagem pedagógica em que a brincadeira é vista como a principal ferramenta de ensino. Por meio da brincadeira, as crianças exploram o mundo ao seu redor, fazem descobertas e experimentam soluções, desenvolvendo habilidades cognitivas, sociais, emocionais e físicas. Nesse contexto, a criança está no centro do processo de aprendizado, com o educador atuando como um facilitador que guia e expande as experiências.

 

Benefícios do PBL

  • Desenvolvimento cognitivo – Brincadeiras promovem o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas. As crianças envolvem-se em atividades que as fazem pensar, planejar e encontrar soluções.

 

  • Habilidades sociais – Durante as brincadeiras, as crianças aprendem a compartilhar, negociar e cooperar com os colegas, desenvolvendo empatia e habilidades de comunicação.

 

  • Desenvolvimento motor – Brincadeiras que envolvem movimento ajudam no desenvolvimento das habilidades motoras finas e grossas, além de promover a saúde física.

 

  • Regulação emocional – As crianças aprendem a entender e a expressar emoções por meio da interação lúdica, o que as ajuda a desenvolver resiliência e autocontrole.

 

O papel do educador nesta abordagem

O educador em um ambiente de PBL não apenas observa, mas também participa ativamente, questionando, sugerindo e ampliando o pensamento da criança. Ele deve proporcionar um ambiente rico em estímulos, com materiais variados, e permitir que as crianças explorem tudo livremente, mas sempre com o suporte necessário para guiar o aprendizado.

 

Estruturada ou livre?

Existem diferentes formas de incorporar o aprendizado por meio da brincadeira:

 

  • Brincadeira estruturada – Quando o educador oferece atividades específicas com um objetivo pedagógico em mente, como jogos de contar ou quebra-cabeças.

 

  • Brincadeira livre – Permite que a criança escolha sua atividade, explore seu ambiente e lide com situações de maneira espontânea. Ao mesmo tempo, o educador observa e apoia o desenvolvimento das habilidades naturais da criança.

 

Em qualquer uma delas, no entanto, há uma intencionalidade pedagógica, uma proposta e o objetivo de observar, acompanhar, monitorar e evoluir o desenvolvimento individual e social.

 

Como aplicar o PBL no cotidiano escolar?

Como tudo na educação, não existe uma receita pronta. Existem sugestões, considerações e orientações possíveis para possibilitar que essa abordagem seja, de fato, efetiva e transformativa. Alguns exemplos:

 

  • Espaços flexíveis – Organize a sala de aula de forma que estimule a curiosidade e ofereça áreas para brincadeiras variadas (construção, faz de conta, arte, movimento).

 

  • Materiais diversificados – Ofereça blocos, brinquedos sensoriais, material de arte, instrumentos musicais, livros e fantasias para promover a exploração e a expressão. E deixe que brinquem!

 

  • Tempo para brincar – Reserve tempo suficiente para brincadeiras todos os dias, garantindo que as crianças tenham oportunidades adequadas para explorar de forma profunda. Lembre-se de que a noção de tempo das crianças é diferente da noção de tempo dos adultos. Portanto, para que o educador possa questionar, sugerir e ampliar o pensamento da criança, é necessário esperar. As crianças precisam de um certo tempo até estarem bem engajadas na brincadeira.

 

  • Perguntas abertas e fechadas – Aprofunde as estratégias de perguntas para não trabalhar somente closed-ended questions (yes/no questions). Um exemplo: Imagine que as crianças estão brincando com bolhas. Perguntas como ‘do you like bubbles?’, ‘are you having fun?’ e ‘did you see how high that bubble went?’, podem aprofundar para ‘tell me about what you are doing’, ‘what about bubbles do you like so much?’ e ‘why do you think that bubble was able to go so high?’. Sempre que for estruturar perguntas mais abertas, procure apresentar um problema, pensar sobre possibilidades, esclarecer o pensamento e fazer perguntas que despertem surpresa ou encanto.

 

Evidências e pesquisas

Estudos mostram que o aprendizado baseado em brincadeiras está ligado ao desenvolvimento de habilidades acadêmicas e sociais de longo prazo. Ao permitir que as crianças explorem conceitos acadêmicos por meio da brincadeira, elas absorvem de maneira mais significativa, retendo melhor o conhecimento e transferindo-o para situações reais. Para os adultos, brincar pode parecer algo na linha da distração ou até algo sem sentido. Mas, para o universo do desenvolvimento infantil, existe um mundo de possibilidades sendo explorado pelas crianças nesse momento do brincar.

 

O play-based learning é uma forma essencial de ensino que envolve o desenvolvimento integral da criança. Brincar é um direito de aprendizagem estabelecido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil, justamente por ser de extrema importância para o desenvolvimento infantil. Ao permitir que a criança explore e aprenda por meio da brincadeira, o educador promove um ambiente de aprendizado significativo, no qual habilidades acadêmicas, sociais e emocionais são desenvolvidas de forma natural e prazerosa.

 

Então, da próxima vez que uma criança disser que “só brincou” na escola hoje, você já sabe o quanto ela aprendeu e se desenvolveu. E sabe também que ela pesquisou, criou, inventou, investigou, nomeou, usou a criatividade, classificou, fez amigos, desenhou universos, heróis e vilões. Que ela abriu o mundo dela para o novo e mergulhou nele, já que as crianças são intrépidas aventuras e o mundo ao seu redor é todo o espaço que elas precisam. Deixe que brinquem. E que brinquem muito!

 


 

Milena Mignossi

Milena Mignossi

Designer educacional e assessora pedagógica no Be - Currículo Bilíngue. Formada em Letras, com Licenciatura Plena em Português/Inglês. Pós-graduada em Planejamento Educacional e Docência do Superior. Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa. Especialista em Educação Inclusiva. Pós-graduanda em Gestão de Projetos e Bilinguismo e Educação Bilíngue. Desde 2002 atua nas áreas de docência, coordenação e formação de educadores em centros de idiomas, escolas regulares e colégios bilíngues, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Escritora de materiais didáticos para a Educação Bilíngue.

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