Quando desenhar é pensar: O papel dos recursos visuais na educação bilíngue

4 min

Educação bilíngue e linguagem visual: uma aliança poderosa

Na educação bilíngue, ensinar conteúdos e desenvolver linguagem andam juntos. Nesse contexto, o uso de recursos visuais vai muito além da estética: torna-se uma poderosa ferramenta de mediação cognitiva e linguística, especialmente em abordagens como PBL (Project-Based Learning) e CLIL (Content and Language Integrated Learning).

 

Essas metodologias colocam o estudante no centro da aprendizagem, promovendo investigação, resolução de problemas e aplicação do conhecimento em contextos reais. Para que isso aconteça, é fundamental que o educador ofereça apoio constante à compreensão dos conceitos. É nesse ponto que entra o scaffolding, uma estratégia pedagógica que fornece suporte temporário aos alunos para que alcancem objetivos de aprendizagem ainda desafiadores.

 

Os recursos visuais são uma das formas mais eficazes de scaffolding: tornam o conteúdo mais acessível, facilitam conexões entre ideias, ampliam o vocabulário e incentivam a participação ativa — inclusive para estudantes com diferentes níveis de proficiência.

 

O que é linguagem visual?

A linguagem visual é um sistema de comunicação baseado em formas, cores, espaço, composição e outros elementos gráficos para transmitir ideias. Assim como a linguagem oral ou escrita, ela tem estrutura, regras e alto potencial expressivo.

 

Segundo Donis Dondis (1997), “o que vemos é parte fundamental do que sabemos”. Para a autora, o letramento visual é a habilidade de ver, compreender e atribuir significado às imagens de maneira consciente, promovendo o que ela chama de inteligência visual.

 

Por que usar a linguagem visual na educação bilíngue?

A ciência da aprendizagem reforça a importância de recursos visuais como ferramentas pedagógicas. Veja o que dizem os estudos:

 

1 – Pensamento visual é pensamento real

Rudolf Arnheim (1969) argumenta que imagens ajudam os estudantes a raciocinar, não apenas memorizar.

 

2 – Dupla codificação

Richard Mayer (2001) explica que combinar palavras e imagens ativa diferentes tipos de memória — o que melhora a retenção e a compreensão.

 

3 – Clareza e foco

Segundo John Hattie (2009), estratégias visuais aumentam significativamente o desempenho dos estudantes, especialmente quando aliadas à instrução clara e ao feedback eficaz.

 

4 – Inclusão e linguagem

A abordagem Visual Thinking Strategies (VTS), de Housen e Yenawine (2001), usa imagens para estimular discussões abertas, promovendo pensamento crítico e inclusão linguística.

 

O papel dos recursos visuais em CLIL, PBL e Scaffolding

CLIL (Content and Language Integrated Learning)

Ao integrar conteúdo e linguagem, o uso de gráficos, mapas conceituais, infográficos e esquemas permite aos alunos compreender conceitos acadêmicos enquanto desenvolvem a língua adicional.

 

Segundo o modelo das 4Cs de Coyle, Hood e Marsh (2010), o CLIL envolve:

 

  • Content (conteúdo)

 

  • Communication (comunicação)

 

  • Cognition (cognição)

 

  • Culture (cultura)

 

Recursos visuais apoiam simultaneamente o desenvolvimento linguístico e conceitual, organizando informações e promovendo engajamento.

 

PBL (Project-Based Learning)

Projetos exigem planejamento, pesquisa e colaboração — todas habilidades que se beneficiam de organizadores visuais. Mapas mentais, storyboards e protótipos ajudam os alunos a expressar ideias antes mesmo de dominar o vocabulário.

 

Scaffolding

Recursos visuais atuam como pontes cognitivas: ilustram significados, organizam pensamentos e exemplificam estruturas linguísticas. Garantem que o estudante participe da atividade mesmo com domínio limitado da língua.

 

Estratégias visuais em ação: exemplos no Currículo BE

Na proposta pedagógica da Currículo BE, os recursos visuais são aplicados de forma intencional e estratégica. Veja algumas formas de usá-los:

 

1. Mapas mentais e diagramas

Favorecem o aprendizado colaborativo e a organização de ideias. Indicados para Ciências e Geografia.

 

2. Flashcards e infográficos

Ajudam na ampliação de vocabulário e memorização. Podem ser usados em jogos e revisões.

 

3. Visual Thinking Strategies (VTS)

Ao explorar imagens com perguntas abertas (“O que está acontecendo aqui?”), os alunos desenvolvem argumentação e linguagem de forma crítica e criativa.

 

4. Quadrinhos, pôsteres e timelines

A criação ou análise de narrativas visuais desenvolve compreensão leitora e produção linguística.

 

5. Organizadores gráficos

Diagramas de Venn, fluxogramas e gráficos permitem visualizar dados de maneira acessível e comparativa.

 

Linguagem visual e inclusão

Imagens são ferramentas de inclusão: tornam conteúdos acessíveis a estudantes em processo de alfabetização ou com necessidades específicas. Elas reduzem barreiras linguísticas e ampliam as possibilidades de participação e expressão.

 

E agora?

Se você é educador(a), pense:

 

  • Qual recurso visual pode facilitar a próxima atividade interdisciplinar?

 

  • Como ajudar aquele aluno que ainda não domina o vocabulário, mas tem boas ideias?

 

Na educação bilíngue, os recursos visuais são muito mais do que complementos. Eles são portas de entrada para o conhecimento, a linguagem e a autonomia.

 

Vamos colocá-los no centro da prática pedagógica?

 


 

Referências:

ARNHEIM, Rudolf. Visual thinking. Berkeley: University of California Press, 1969.

 

COYLE, Do; HOOD, Philip; MARSH, David. CLIL: content and language integrated learning. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

 

DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Tradução de Maria Helena B. Boggiss. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Obra original publicada em 1973).

 

MAYER, Richard E. Multimedia learning. New York: Cambridge University Press, 2001.

 

HATTIE, John. Visible learning: a synthesis of over 800 meta-analyses relating to achievement. London: Routledge, 2009.

 

HOUSEN, Abigail; YENAWINE, Philip. Visual thinking strategies: learning to think and communicate through art. New York: Visual Understanding in Education, 2001.

 


 

Celina De Lorenzi

Celina De Lorenzi

Assessora Pedagógica no Be - Currículo Bilíngue, licenciada em Letras (Português/Inglês) pela PUC-PR e bacharel em Design pela FAE, mestranda em Design pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com pesquisa na área de Educação Inclusiva através do Design para crianças com autismo. É especialista em Língua Inglesa, com ênfase em Metodologia de Ensino e Tradução (PUCPR), Games e Gamificação na Educação (UNINTER) e Arte Educação (UNINTER). Possui experiência como professora de inglês e de Arte, ambas as disciplinas no contexto da educação bilíngue. Além disso, é autora e ilustradora de livros infantis. Tem se dedicado a pesquisar a influência do ensino da Arte e da linguagem visual na educação básica, especialmente no campo da educação inclusiva. Acredita que a educação tem o poder de transformar o mundo e que todos têm a capacidade de ensinar e aprender.

Pesquisar

Conteúdos mais lidos

Há muita desinformação espalhada por aí sobre a Educação Bilíngue. De confusões legítimas e desconhecimento dos processos de aprendizagem a

Nas transformações que a Educação Bilíngues vêm propondo para realidade brasileira, é importante que falemos mais sobre a recepção e