Educação bilíngue e linguagem visual: uma aliança poderosa
Na educação bilíngue, ensinar conteúdos e desenvolver linguagem andam juntos. Nesse contexto, o uso de recursos visuais vai muito além da estética: torna-se uma poderosa ferramenta de mediação cognitiva e linguística, especialmente em abordagens como PBL (Project-Based Learning) e CLIL (Content and Language Integrated Learning).
Essas metodologias colocam o estudante no centro da aprendizagem, promovendo investigação, resolução de problemas e aplicação do conhecimento em contextos reais. Para que isso aconteça, é fundamental que o educador ofereça apoio constante à compreensão dos conceitos. É nesse ponto que entra o scaffolding, uma estratégia pedagógica que fornece suporte temporário aos alunos para que alcancem objetivos de aprendizagem ainda desafiadores.
Os recursos visuais são uma das formas mais eficazes de scaffolding: tornam o conteúdo mais acessível, facilitam conexões entre ideias, ampliam o vocabulário e incentivam a participação ativa — inclusive para estudantes com diferentes níveis de proficiência.
O que é linguagem visual?
A linguagem visual é um sistema de comunicação baseado em formas, cores, espaço, composição e outros elementos gráficos para transmitir ideias. Assim como a linguagem oral ou escrita, ela tem estrutura, regras e alto potencial expressivo.
Segundo Donis Dondis (1997), “o que vemos é parte fundamental do que sabemos”. Para a autora, o letramento visual é a habilidade de ver, compreender e atribuir significado às imagens de maneira consciente, promovendo o que ela chama de inteligência visual.
Por que usar a linguagem visual na educação bilíngue?
A ciência da aprendizagem reforça a importância de recursos visuais como ferramentas pedagógicas. Veja o que dizem os estudos:
1 – Pensamento visual é pensamento real
Rudolf Arnheim (1969) argumenta que imagens ajudam os estudantes a raciocinar, não apenas memorizar.
2 – Dupla codificação
Richard Mayer (2001) explica que combinar palavras e imagens ativa diferentes tipos de memória — o que melhora a retenção e a compreensão.
3 – Clareza e foco
Segundo John Hattie (2009), estratégias visuais aumentam significativamente o desempenho dos estudantes, especialmente quando aliadas à instrução clara e ao feedback eficaz.
4 – Inclusão e linguagem
A abordagem Visual Thinking Strategies (VTS), de Housen e Yenawine (2001), usa imagens para estimular discussões abertas, promovendo pensamento crítico e inclusão linguística.
O papel dos recursos visuais em CLIL, PBL e Scaffolding
CLIL (Content and Language Integrated Learning)
Ao integrar conteúdo e linguagem, o uso de gráficos, mapas conceituais, infográficos e esquemas permite aos alunos compreender conceitos acadêmicos enquanto desenvolvem a língua adicional.
Segundo o modelo das 4Cs de Coyle, Hood e Marsh (2010), o CLIL envolve:
- Content (conteúdo)
- Communication (comunicação)
- Cognition (cognição)
- Culture (cultura)
Recursos visuais apoiam simultaneamente o desenvolvimento linguístico e conceitual, organizando informações e promovendo engajamento.
PBL (Project-Based Learning)
Projetos exigem planejamento, pesquisa e colaboração — todas habilidades que se beneficiam de organizadores visuais. Mapas mentais, storyboards e protótipos ajudam os alunos a expressar ideias antes mesmo de dominar o vocabulário.
Scaffolding
Recursos visuais atuam como pontes cognitivas: ilustram significados, organizam pensamentos e exemplificam estruturas linguísticas. Garantem que o estudante participe da atividade mesmo com domínio limitado da língua.
Estratégias visuais em ação: exemplos no Currículo BE
Na proposta pedagógica da Currículo BE, os recursos visuais são aplicados de forma intencional e estratégica. Veja algumas formas de usá-los:
1. Mapas mentais e diagramas
Favorecem o aprendizado colaborativo e a organização de ideias. Indicados para Ciências e Geografia.
2. Flashcards e infográficos
Ajudam na ampliação de vocabulário e memorização. Podem ser usados em jogos e revisões.
3. Visual Thinking Strategies (VTS)
Ao explorar imagens com perguntas abertas (“O que está acontecendo aqui?”), os alunos desenvolvem argumentação e linguagem de forma crítica e criativa.
4. Quadrinhos, pôsteres e timelines
A criação ou análise de narrativas visuais desenvolve compreensão leitora e produção linguística.
5. Organizadores gráficos
Diagramas de Venn, fluxogramas e gráficos permitem visualizar dados de maneira acessível e comparativa.
Linguagem visual e inclusão
Imagens são ferramentas de inclusão: tornam conteúdos acessíveis a estudantes em processo de alfabetização ou com necessidades específicas. Elas reduzem barreiras linguísticas e ampliam as possibilidades de participação e expressão.
E agora?
Se você é educador(a), pense:
- Qual recurso visual pode facilitar a próxima atividade interdisciplinar?
- Como ajudar aquele aluno que ainda não domina o vocabulário, mas tem boas ideias?
Na educação bilíngue, os recursos visuais são muito mais do que complementos. Eles são portas de entrada para o conhecimento, a linguagem e a autonomia.
Vamos colocá-los no centro da prática pedagógica?
Referências:
ARNHEIM, Rudolf. Visual thinking. Berkeley: University of California Press, 1969.
COYLE, Do; HOOD, Philip; MARSH, David. CLIL: content and language integrated learning. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Tradução de Maria Helena B. Boggiss. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Obra original publicada em 1973).
MAYER, Richard E. Multimedia learning. New York: Cambridge University Press, 2001.
HATTIE, John. Visible learning: a synthesis of over 800 meta-analyses relating to achievement. London: Routledge, 2009.
HOUSEN, Abigail; YENAWINE, Philip. Visual thinking strategies: learning to think and communicate through art. New York: Visual Understanding in Education, 2001.