Promover o pensamento crítico e criativo nas escolas é mais do que um objetivo pedagógico — é uma necessidade do século XXI. Em um mundo cada vez mais complexo e dinâmico, formar alunos capazes de pensar por si mesmos, colaborar uns com os outros e aplicar o conhecimento de maneira significativa é fundamental. Nesse contexto, práticas como rotinas de pensamento, registros visuais, conexões com o cotidiano, discussões colaborativas e feedback processual ganham destaque como ferramentas poderosas para o educador.
Essas práticas estão profundamente conectadas à proposta do Currículo Be, que valoriza o desenvolvimento integral da criança por meio de experiências que englobam cognição, emoção, expressão e convivência. Além disso, elas se articulam com os fundamentos da teoria do Pensamento Visível (Visible Thinking), desenvolvida pelo Project Zero, da Universidade de Harvard, que propõe estratégias para tornar o pensamento dos alunos perceptível, valorizado e compartilhado no processo educativo.
Tais abordagens ganham ainda mais força quando aplicadas em contextos de Educação Bilíngue, pois a aprendizagem em duas línguas potencializa o pensamento metacognitivo, estimula a curiosidade e favorece maior flexibilidade cognitiva. O uso consciente da língua adicional se dá não apenas por meio da comunicação, mas também pela mediação do pensamento — o que torna as práticas visíveis ainda mais eficazes.
A seguir, apresentamos cinco estratégias práticas para integrar essas ideias ao cotidiano da sala de aula, com exemplos adaptados ao contexto bilíngue e com ênfase em metodologias ativas.
1. Rotinas de pensamento
As rotinas são estruturas simples que organizam o pensamento e incentivam a reflexão. Um exemplo clássico é: “Vejo, penso, me pergunto”.
Exemplo
Em uma aula de Science, leve objetos naturais (como folhas, pedras ou sementes) e peça aos estudantes, em roda, que digam:
- “I see…”
- “I think…”
- “I wonder…”
Registre as falas em um cartaz coletivo, promovendo o uso da linguagem como instrumento de pensamento. Essa atividade pode ser feita com estudantes do Fundamental ou até mesmo da Educação Infantil, com apoio visual e modelagem da fala.
2. Registro e documentação
Documentar o processo de aprendizagem ajuda a tornar o pensamento visível e promove a autoavaliação. Essa prática pode ser feita com ou sem ferramentas digitais.
Exemplo
Crie um Diário de Ideias ou Thinking Journal, no qual os estudantes possam registrar semanalmente (com desenhos, palavras ou colagens) suas descobertas, hipóteses ou sentimentos em relação a projetos em andamento. Na Educação Infantil bilíngue, isso pode ocorrer por meio de desenhos acompanhados de falas transcritas pelo educador, em ambos os idiomas.
Dica Be
Expor esses registros em murais da sala de aula ou nos corredores amplia o diálogo com a comunidade escolar e reforça o protagonismo infantil.
3. Conexões práticas com o cotidiano
Aplicar os conceitos da aula em situações reais torna o aprendizado significativo e promove o raciocínio criativo.
Exemplo (atividade de projeto)
Durante um projeto sobre alimentação saudável, peça que os estudantes elaborem uma feira bilíngue com receitas, cartazes explicativos e simulações de compra e venda (role play).
Atividades como:
- “Can I help you?”
- “How much is it?”
Integram habilidades linguísticas, pensamento matemático e expressão oral.
Esse tipo de dinâmica ativa envolve pesquisa, colaboração, organização e produção de conhecimento, tudo dentro de um contexto autêntico.
4. Discussões colaborativas
Espaços de diálogo ajudam a desenvolver empatia, argumentação e escuta ativa — competências essenciais tanto na língua de nascimento quanto na adicional.
Exemplo (atividade presencial)
Promova rodas de conversa chamadas Community Circles, nas quais os estudantes respondem a perguntas abertas como:
- “What was the best part of your week?”
- “What would you change in our classroom?”
- “How did you solve a problem this week?”
Use cartões com frases de apoio para quem está desenvolvendo vocabulário e incentive o revezamento natural da fala. Essa prática ajuda a construir um ambiente emocionalmente seguro, promovendo a participação ativa de todos.
5. Feedback processual
Valorizar o esforço e o raciocínio dos estudantes — e não apenas o resultado — ajuda a desenvolver uma mentalidade de crescimento, como destaca a psicóloga Carol Dweck.
Exemplo
Monte com os estudantes uma Parede do Progresso (Growth Wall), na qual eles fixam post-its com reflexões sobre seu processo, como:
- “Today I learned…”
- “I used a new strategy when…”
- “I asked a good question about…”
Essas anotações podem ser discutidas em duplas, promovendo a autoavaliação e a metacognição de forma leve e participativa.
Essas práticas criam uma cultura de sala de aula baseada na escuta, no pensamento visível e na valorização do percurso — pilares do Currículo Be e aliados poderosos da Educação Bilíngue. Ao adotá-las, o educador se torna um facilitador do pensamento, promovendo aprendizagens significativas, inclusivas e transformadoras.
Como propõe o Currículo Be: “ensinar é criar o ambiente para que o aprender floresça”. E esse florescer começa nas pequenas decisões pedagógicas do dia a dia.