Acompanhamos, principalmente nos últimos meses de 2024, um avanço das discussões sobre o uso de celulares nas escolas. No dia 13/11/2025, foi sancionada a Lei 15.100/2025, que regulamenta o uso de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares, por estudantes em escolas de educação básica. A lei tem o propósito de proteger a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes.
Essa lei proíbe o uso de celulares durante as aulas, o recreio e os intervalos; exceção para uso com fins pedagógicos ou em casos de emergência. A utilização desses dispositivos também é permitida para garantir a acessibilidade e a inclusão e atender às condições de saúde dos estudantes.
Muito se falou sobre os benefícios que tal proibição pode trazer para o aprendizado. Há quem diga que teremos inclusive melhora no comportamento e na participação dos estudantes em sala de aula.
Entretanto, não quero falar sobre os impactos desta lei para as escolas, e sim para as famílias. Mesmo que alguns projetos de lei visem proteger as crianças do uso de redes sociais, frequentemente não vemos a mesma intensidade em monitorar e controlar o uso do dispositivo por crianças e adolescentes fora da escola.
O uso de smartphones está presente em nossa vida da hora que acordamos até o momento que vamos dormir. E aqui não me coloco fora deste que entendo como um problema. Acordamos, geralmente, com o alarme do celular e, antes de sair da cama, já somos inundados com as informações do dia, do trabalho ou das nossas redes sociais. Antes de ver o rosto de alguém da nossa família, vemos a tela do nosso aparelho.
O impacto do uso do celular em casa
Se dentro das escolas essa proibição visa criar um ambiente mais saudável para o aprendizado, fora delas as famílias enfrentam o desafio de equilibrar o uso da tecnologia no dia a dia. Crianças que estudam em escolas com restrição ou proibição do uso do celular, em geral, continuam a ter livre acesso a ele em casa, muitas vezes sem mediação ou regras claras.
Isso não é exclusividade dos pequenos. Pais e responsáveis também se veem presos ao ciclo do uso excessivo do celular. Ao colocarmos nossos aparelhos como prioridade, é natural que nossos filhos repliquem esse comportamento. Afinal, como podemos pedir para que não fiquem conectados se muitas vezes também somos incapazes de nos desconectar?
Reflexões para as famílias
A relação saudável com a tecnologia começa dentro de casa. Isso não significa banir o uso do celular, mas sim estabelecer limites que garantam o uso consciente. Mais do que isso: é essencial que os adultos sejam exemplos consistentes.
Algumas perguntas que podem guiar essa reflexão:
- Estamos dedicando tempo de qualidade às interações familiares sem a presença de telas?
- Estabelecemos espaços ou horários livres de celular na rotina da casa?
- Temos conversas abertas sobre os benefícios e os riscos do uso da tecnologia?
Desafios e passos práticos
Sabemos que limitar o uso do celular não é fácil. O trabalho, a rotina atribulada e as demandas constantes tornam esse dispositivo uma ferramenta conveniente. Ainda assim, pequenas mudanças podem gerar grandes resultados.
- Horário de desconexão – Estabeleça alguns períodos do dia em que todos guardem os celulares. Por exemplo, durante as refeições e antes de dormir.
- Momentos de qualidade – Crie espaços de interação sem telas, como brincadeiras, jogos ou leituras em família.
- Educação digital – Conheça e converse sobre o impacto da tecnologia e ensine o uso consciente, destacando os benefícios e os cuidados necessários.
A mudança começa em casa
Se queremos que nossos filhos desenvolvam uma relação saudável com a tecnologia, precisamos dar os primeiros passos dentro do ambiente familiar.
A proibição dos celulares nas escolas pode ser uma ferramenta poderosa para garantir a atenção dos estudantes e promover um ambiente mais propício ao aprendizado. Mas o impacto real dessa medida depende do que acontece fora do ambiente escolar. E nós, como famílias, somos os principais responsáveis por criar esse equilíbrio. Afinal, a mudança que queremos ver nos outros começa em nossas mãos.