Metacognição é uma daquelas palavras que têm aparecido cada vez mais em conferências e eventos sobre educação. Não é por acaso. Muitos estudos mostram que alunos mais metacognitivos sabem aprender melhor (Zulkiply, 2009). O que não nos dizem é que ser metacognitivo vai além da consciência ou do pensamento. É preciso agir. Eu decidi agir nos últimos dois anos e dessa ação resultaram duas obras. Ao escrevê-las, refleti muito sobre o que é ensinar e o que é aprender.
O mais engraçado é que, nos dois livros, dediquei um capítulo inteiro para explorar o conceito de metacognição. O primeiro livro – O Fator Coruja: Reformulando sua Filosofia de Ensino – foca mais no sentido abstrato e nos questionamentos sobre educação que devemos fazer como educadores e membros de uma sociedade que valoriza o sistema de ensino. O segundo – Estudando com a Ciência da Aprendizagem: 10 Estratégias Baseadas em Evidência de Como Estudar para Aprender de Verdade – traz analogias e dicas práticas para estudantes, famílias e professores que desejam colocar em ação o plano de aprender melhor com base na ciência. Trago aqui os referidos capítulos na esperança de que um complemente o outro e que quem quer que os leia passe a ser mais metacognitivo e, principalmente, comece agir mais metacognitivamente.
O Fator Coruja: Reformulando sua Filosofia de Ensino
Se pensarmos nas nossas aulas de idioma na escola, talvez lembremos que o prefixo meta, que vem do grego, significa “além” ou exprime a noção de “transcendência”; e que geralmente é empregado para dar a ideia da categoria dentro da categoria. Por exemplo: metalinguagem é a linguagem da linguagem e metadados significa os dados sobre os dados. Portanto, metacognição significa a cognição da/ou sobre a cognição. Uma vez que a cognição é o objeto de estudo de muitos pesquisadores preocupados com nossos processos de pensamento e como aprendemos, a metacognição tem sido popularmente referida como o pensamento sobre o pensamento ou aprendendo a aprender.
Voltando algumas décadas no tempo, descobrimos que o termo “metacognição” foi cunhado e popularizado pelo psicólogo estadunidense John Flavell (1979). Em seu trabalho dos anos 1970, ele descreve a metacognição como:
Conhecimento sobre nossos próprios processos cognitivos, habilidade para controlar, organizar, monitorar, adaptar e refletir sobre nossos próprios pensamentos.
Observe as palavras-chave. A metacognição envolve não apenas aprender coisas, mas questionar se a maneira como aprendemos se baseia no melhor ou mais apropriado método, além de ajustar como estudamos. A principal pergunta da metacognição é:
Existe uma maneira mais eficaz de aprender?
Para responder a essa pergunta, Flavell discute três categorias de metacognição:
- Conhecimento Metacognitivo
- Experiências Metacognitivas
- Estratégias de Controle Metacognitivo
A primeira refere-se ao conhecimento que as pessoas têm sobre si mesmas e sobre os outros, bem como sobre tarefas e estratégias. Digamos que alguém queira aprender a tocar violino. Se tiver conhecimento metacognitivo, estará ciente de que as pessoas que aprendem a tocar violino devem ter: acesso ao instrumento, um local adequado para estudar (um estúdio silencioso, por exemplo), habilidade para ler partituras, uma rotina variada de exercícios com muita repetição e assim por diante.
O aprendiz também deve entender como as pessoas podem aprender teoria musical e a tocar um instrumento, ou seja, alguns dos princípios universais básicos de aprendizado dessa habilidade, que é bastante diferente de aprender algo como História. Esse aprendiz metacognitivo também deve saber como seu professor trabalha, o que este professor espera dele e, principalmente, o que funciona melhor para si mesmo. Talvez ele só possa praticar o violino à noite, quando está silencioso, ou talvez se considere uma pessoa matinal e prefira estudar pela manhã. Como você provavelmente notou, no meu caso, isso pode não funcionar bem, já que me considero uma pessoa noturna – talvez eu realmente tenha alguma coisa a ver com as corujas.
A segunda e terceira categorias se encaixam no rótulo geral de regulação metacognitiva. Elas dizem respeito ao conhecimento de quais estratégias funcionam melhor e como usá-las para alcançar o resultado desejado. Isso significa que apenas ter conhecimento de como tocar violino não ajudará uma pessoa a aprender essa arte se ela não conseguir planejar seu estudo, se envolver com as atividades e se manter focada na tarefa, além de avaliar se o método adotado está funcionando ou não.
Um aprendiz metacognitivo é capaz de fazer os ajustes necessários no processo para alcançar o resultado desejado. Digamos que nosso aprendiz de violino perceba que não pode praticar à noite porque está incomodando os vizinhos – isso me lembra a coruja e o gafanhoto. Ele terá que encontrar outro horário ou outro lugar para praticar porque entende a importância do esforço sustentado. Ou deixar a sala onde pratica à prova de som; ou comprar um violino elétrico com um amplificador para que possa usar fones de ouvido. Um aprendiz metacognitivo desenvolve mecanismos de regulação a fim de garantir o cumprimento de suas tarefas e avalia o que precisa ser alterado.
Ambrose et al. (2010) oferecem um quadro interessante para nos ajudar a entender o processo metacognitivo.
Ciclo Metacognitivo (Ambrose et al. 2010)
Nesse ciclo metacognitivo, o primeiro passo é avaliar a tarefa em questão. Frequentemente, ao escreverem um texto ou trabalharem em um projeto, muitos aprendizes fazem suposições e tiram conclusões precipitadas. Às vezes, não leem ou não entendem as instruções e vão longe demais com a tarefa, desviam do assunto de maneira até interessante, mas irrelevante, ou perdem algo crítico porque não prestaram atenção às instruções. Avaliar a tarefa e o que está sendo pedido é fundamental se esses alunos quiserem ter sucesso.
A seguir, vem a etapa chamada de avaliar forças e fraquezas, ou seja, o aluno deve refletir sobre o que já sabe fazer bem e o que será mais difícil. Logo depois, vem a abordagem. Tarefas diferentes requerem abordagens diferentes e, dependendo do tempo que os alunos têm, eles podem demorar muito em estratégias ineficazes ou até mesmo inúteis ou simplesmente não alocar tempo suficiente para realizar as tarefas.
Muitos alunos pulam a etapa de planejamento porque acham que tudo vai dar certo. O que geralmente não acontece. Mas eles só percebem isso quando recebem o feedback do professor em relação a determinado trabalho. Além disso, conforme dita o próximo passo, é importante aplicar as estratégias mais adequadas para a tarefa e garantir que elas se tornem parte da rotina de aprendizado. Apenas pensar nessas estratégias e deixar de aplicá-las não gerará resultados positivos.
A etapa final é talvez a mais importante para os alunos metacognitivos. Esta é a etapa de reflexão, o que implica que os alunos devem avaliar seu trabalho em cada etapa para ver o que funcionou bem e o que não funcionou. Refletir sobre o processo de aprendizagem pode ser bastante doloroso – e até parecer um ataque ao nosso ego –, mas pode nos dizer muito sobre o que não está funcionando e o que é necessário para mudar as coisas. Aqui vão algumas perguntas.
Perguntas importantes sobre metacognição
- Meu plano foi adequado/realista?
- Eu aloquei tempo suficiente para realizar a tarefa?
- Eu estava comprometido/focado quando realizei a tarefa?
- Eu tinha acesso aos materiais/recursos certos?
- Eu procurei ajuda quando não sabia o que fazer?
- Eu fiz ajustes apropriados quando as coisas não funcionaram?
Estudando com a Ciência da Aprendizagem: 10 Estratégias Baseadas em Evidência de Como Estudar para Aprender de Verdade
Eu não sei você, mas eu adoro assistir a documentários. Apesar de não ter seguido a carreira, eu acho que teria gostado muito de ser um físico teórico ou astrofísico. Quando eu estava no Ensino Médio, meu amigo e eu fomos escolhidos para a olimpíada de física numa cidade vizinha porque nós tínhamos as melhores notas da turma – dois nerds. Ficamos honrados com o convite, empolgados e assustados ao mesmo tempo. A grande verdade é que o nosso desempenho na olimpíada foi péssimo. Eu me lembro de pensar que eu não sabia resolver nenhum problema porque ainda nem tinha aprendido um monte de fórmula.
Entretanto, eu sempre pensei na física como uma maneira de entender os mistérios do universo. Hoje em dia, sou fã de físicos renomados como Carl Sagan, Stephen Hawking, Marie Curie e o grande Albert Einstein. Pergunta rápida: por acaso vocês se lembram do QI dele? Eu citei o número no neuromito 3. Enfim, eis aonde eu quero chegar: minha esposa e eu assistimos à primeira temporada da série Gênio, sobre a vida de Einstein, produzida pela National Geographic. Fiquei mais intrigado pela vida e obra deste homem que muitos consideram o maior gênio da humanidade.
Albert Einstein é frequentemente citado como um grande exemplo de metacognição. Einstein não era apenas um físico brilhante, mas também altamente metacognitivo. Ele estava ciente dos próprios processos de pensamento e usava essa consciência para melhorar o seu trabalho. A série mostra bem uma técnica que ele usava. Einstein fazia experimentos mentais para testar e aprimorar suas teorias. Esses experimentos mentais envolviam imaginar-se em várias situações e pensar nas consequências de diferentes ações. Ao fazer isso, Einstein foi capaz de obter uma compreensão mais profunda dos próprios processos de pensamento e aprimorar suas teorias de acordo.
Einstein também não tinha medo de desafiar as próprias suposições e crenças. Ele frequentemente questionava a sabedoria convencional de sua época e olhava para os problemas de ângulos diferentes. Ele reconhecia que havia várias maneiras de abordar um problema e estava disposto a experimentar diferentes métodos até encontrar o mais eficaz.
Ser metacognitivo é ser justamente como Einstein: inquieto, observador, curioso e criativo sobre a própria aprendizagem. A série mostra como ele desafiava os professores quando não achava que aprenderia muito com os métodos que eles usavam. Cuidado para não fazer o mesmo sem nenhuma justificativa!
Podemos pensar, então, no conceito de metacognição pela perspectiva das duas frases mais associadas a ele:
Pensar sobre pensar
Aprender a aprender
A metacognição não se trata apenas de pensar sobre como aprendemos ou de questionar se a forma como estudamos é a melhor ou a mais apropriada para aprendermos. Metacognição deve levar à ação.
De maneira simples, ter conhecimento metacognitivo envolve nossa compreensão sobre como aprendemos e inclui o conhecimento sobre as exigências da tarefa, nossas habilidades e limitações e as estratégias eficazes para aprender. As experiências metacognitivas envolvem a nossa consciência acerca dos nossos processos de pensamento e emoções durante a aprendizagem. As estratégias de controle metacognitivo são as ações que tomamos para gerenciar nosso aprendizado, como planejar e organizar atividades de aprendizagem, monitorar nosso progresso e fazer ajustes em nossas estratégias de aprendizagem.
Dicas sobre metacognição
1. AVALIE A TAREFA:
Antes de começar uma tarefa, avalie as instruções e os requisitos da tarefa. Por exemplo: se você precisa escrever uma redação, certifique-se de que você entendeu a pergunta que está sendo feita e o que é esperado de você na resposta.
2. AVALIE SUAS HABILIDADES:
Faça uma avaliação realista de suas habilidades e limitações. Por exemplo: se você sabe que tem dificuldade em matemática, você provavelmente vai precisar de mais tempo para estudar para um teste dessa disciplina do que para um teste de literatura.
3. USE ESTRATÉGIAS EFICAZES DE APRENDIZAGEM:
Comece pelas estratégias deste livro! Mas nunca confie só em um livro ou em um autor. Isso vale para mim também.
4. MONITORE SEU PROGRESSO:
Fiscalize seu processo e faça ajustes em suas estratégias de aprendizagem quando necessário. Por exemplo: se você está estudando para um teste e percebe que não está retendo as informações, você pode precisar de outro material ou de uma pausa.
5. REFLITA SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM:
Reflita e identifique o que funcionou e o que não funcionou. Um exemplo é rever as coisas que você errou e acertou num determinado quiz e pensar sobre como aprender com isso.
As próximas dicas vêm (in)diretamente da mente mais brilhante – a de Albert Einstein:
6. FAÇA EXPERIMENTOS MENTAIS:
Imagine cenários diferentes para as coisas que está estudando e faça muitas perguntas para recalibrar os seus pensamentos. Use perguntas do tipo “e se?”.
7. DESAFIE SUAS CRENÇAS:
Quando estiver certo de que as estratégias que você está usando estão funcionando bem, pense outra vez. Exija provas de você mesmo para checar os resultados. Seja socrático!
8. EXPLIQUE PARA UMA CRIANÇA:
Dizem que uma das frases mais famosas de Einstein foi: “Se você não consegue explicar algo de forma simples, então você não entendeu o suficiente”. Para testar o quanto você sabe sobre estratégias de aprendizagem ou sobre biologia, finja que está explicando a uma criança de 6 anos.
O que isso tem a ver com Educação Bilíngue e bilinguismo?
Como velho professor de inglês e mais recentemente professor de Educação Bilíngue, Linguagem, Bilinguismo e Cognição nos cursos de extensão e pós-graduação da PUCPR, posso afirmar que usei muito da minha experiência na área para escrever o livro; inclusive, usei exemplos do ensino de línguas e de contextos multilíngues. Contudo, sei que nos beneficiamos de outras perspectivas – ou de outros ângulos, como preferia Einstein. Os dois livros que escrevi mostram que ser metacognitivo ajuda a aprender melhor e a colocar em ação um plano para efetivar o aprendizado. Então, qual é a relação do bilinguismo com a metacognição? Em outras palavras, o que a metacognição tem a ver com a Educação Bilíngue?
Minha resposta é simples: tem tudo a ver. Desde pelo menos 2004 (Bialystok et al. 2004 e Bialystok & Martin, 2004), depois do estudo pioneiro encabeçado pela pesquisadora Ellen Bialystok, sabemos que o cérebro bilíngue tem ganhos expressivos de cognição que se refletem na melhoria das funções cognitivas. Essas funções são um conjunto de habilidades mentais sofisticadas que nos permitem planejar, organizar, monitorar e controlar nossas ações para atingir um objetivo específico. Tais habilidades são fundamentais para o desempenho efetivo em uma ampla gama de tarefas, desde as mais simples até as mais complexas. Refiro-me também às habilidades sociais e emocionais.
Muitos estudos agrupam as funções executivas em três:
- Memória de trabalho (atualização): capacidade de manter e manipular informações na mente por curtos períodos de tempo.
- Flexibilidade cognitiva (alternância): capacidade de mudar o foco mental e adaptar-se a situações novas ou imprevistas.
- Controle inibitório (inibição): capacidade de inibir ou controlar impulsos, comportamentos ou respostas inadequadas.
Notem o seguinte: sem essas funções executivas, não existe controle da nossa cognição. Sem memória de trabalho, não seríamos capazes de atualizar nossos conceitos mentais e nossa compreensão do mundo. Não aprenderíamos nada novo. Sem flexibilidade cognitiva, não saberíamos usar outras abordagens – ou ver por ângulos diferentes – quando confrontados com um impasse. Sem controle inibitório, não teríamos condições de minimizar distrações e regular nossas emoções para alcançar objetivos. Sem essas funções executivas, não haveria metacognição. Metacognição e funções executivas estão tão inerentemente conectadas que existe um grupo de pesquisa da University College of London (UCL) chamado Metacognition & Executive Functions, liderado pelos pesquisadores Paul Burgess, Sam Gilbert e Tim Shallice.
As evidências – e paralelos – não param por aí. Einstein passou grande parte da vida trabalhando em algo chamado Teoria do Campo Unificado, também conhecida como Teoria de Tudo. Ele já havia criado a Teoria da Relatividade, descrevendo como a gravidade funciona no universo, mas sem explicar as outras forças fundamentais da natureza, como o eletromagnetismo e as forças nucleares forte e fraca. O propósito da Teoria de Tudo era a tentativa de unificar todas essas forças fundamentais em um único framework. Ele tentou desenvolver um quadro matemático que pudesse unir essas forças, mas não teve sucesso em vida.
Recentemente, mais precisamente em 2017, a pesquisadora Claudia Roebers (Roebers, 2017) escreveu um paper intitulado Executive Function and Metacognition: Towards a Unifying framework of Cognitive Self-regulation (Função Executiva e Metacognição: Rumo a um Framework Unificador de Autorregulação Cognitiva). Que coincidência interessante, não acham? A literatura ainda é escassa sobre esse tema, mas que tal se nós fizermos, juntos, um dos experimentos mentais que Einstein propunha?
Imaginem que estamos dentro do cérebro humano. Esse cérebro ainda é jovem. Começamos a caminhar da parte de trás, ou seja, do lobo occipital, até a parte frontal. No caminho, notamos que as estruturas já se encontram mais ou menos no seu lugar. Elas ainda vão passar por modificações importantes, como todo o cérebro, mas funções como visão e coordenação motora já estão bem estabelecidas. Ao pisarmos no lobo frontal, o que vemos? Muita desorganização e um espaço mais vazio. Agora, vamos imaginar que conseguimos viajar alguns anos em apenas poucos segundos. Observem como esse espaço vai amadurecendo, se organizando e ficando cada vez mais funcional a cada ano que passa.
Existem três grandes salas interligadas onde cada uma das funções executivas fica. Essas salas são ligadas ainda a um centro de controle ou de operações – a sala de metacognição. Conseguem imaginar as mesas e baias cheias de computadores e analistas procurando soluções para executar suas tarefas de maneira mais inteligente? A sala de metacognição e as salas das funções executivas estão trabalhando em sincronia. Nós estamos em um cérebro bilíngue. Em um piscar de olhos, somos transportados para a mesma região, mas, desta vez, em um cérebro monolíngue. As salas estão um pouco mais desorganizadas, o trabalho não acontece com tanta sincronia e as coisas nem sempre funcionam tão bem.
Essa brincadeira nos mostra que o cérebro bilíngue, ao desenvolver melhor suas funções executivas, gera um ambiente propício para metacognição. O sujeito bilíngue tem melhor controle cognitivo e isso, por si só, merece a atenção de todo o ecossistema escolar. Além de estender a vida funcional do cérebro, por ser uma fonte de neuroplasticidade, o bilinguismo potencializa a nossa capacidade de aprender. O bilinguismo nos torna mais metacognitivos.
Isso não é maravilhoso? No entanto, termino essa reflexão com uma constatação um tanto triste. Talvez não seja culpa das pessoas. Talvez seja falta de percepção ou um pouco de preconceito herdado pelo sistema de educação industrial e mecanizado pelo qual passamos. Muitas pessoas acreditam que as aulas de inglês, literatura, música, artes e outras matérias afins são substituíveis. Assim que alguém sugere o corte de alguma coisa no currículo, são logo essas as que sofrem. O inglês, muitas vezes, mais que todas. No entanto, o exercício de unir a ciência e a arte, a cognição e a emoção, a racionalidade e a criatividade artística é fundamental e essencialmente humano. Nos dois livros que escrevi, tentei unir a filosofia com seus diálogos às fábulas e seus dilemas, às histórias pessoais (anedotas) e à ciência. Também busquei explorar a culinária e a música com a ciência de como aprendemos. Essas atividades não só nos desenvolvem cognitivamente. Elas nos desenvolvem holisticamente, por inteiro.
O poder do brilhantismo de Albert Einstein, diziam seus colegas e os historiadores, vinha da sua imaginação fértil. Eu acredito que essa imaginação nascia de um cérebro plurilíngue, musicista e curioso: Einstein falava pelo menos alemão, inglês, um pouco de francês e italiano e lia latim; e era exímio violinista e fã de Mozart. Se decidíssemos trocar as aulas bilíngues ou de artes por outras disciplinas, o que seria das crianças? E se Einstein não soubesse ler as publicações de outros autores em outras línguas? E se ele não pudesse trocar cartas ou conversar com pessoas de outras nacionalidades que descobriram novas teorias?
Já passou da hora de aprendermos a aprender, olhando para os erros passados, e de começarmos a pensar sobre como nossas crianças e adolescentes pensam e aprendem melhor. Já passou da hora de termos no currículo componentes que comprovadamente estimulam de forma positiva o cérebro das novas gerações. O bilinguismo é um dos caminhos e faz parte do plano de ação para qualquer escola que queira não somente fazer a diferença. É necessário agir. Afinal de contas, nós conhecemos o brilhantismo desse físico alemão de cabelos desgrenhados e bigode porque ele agiu sobre seus pensamentos com imaginação e criatividade e alterou fundamentalmente nossa compreensão do universo. Que outras crianças e adolescentes possam fazer descobertas incríveis; e que o cérebro bilíngue delas seja o veículo para suas conquistas.