Translinguagem na Educação Bilíngue: perspectiva da realidade educacional brasileira

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A Educação Bilíngue tem ganhado cada vez mais importância na sociedade contemporânea, especialmente em países com rica diversidade cultural e linguística como o Brasil.

 

No contexto educacional brasileiro, em que diversos idiomas são falados e a inclusão e a equidade se tornaram questões centrais, a translinguagem emerge como uma abordagem promissora para tornar a Educação Bilíngue mais inclusiva e aberta à diversidade linguística dos estudantes. Ao reconhecer a diversidade linguística presente nas salas de aula bilíngues, a translinguagem promove uma educação mais inclusiva e igualitária, valorizando a identidade e a cultura de cada estudante.

 

O Brasil é uma nação com vasta diversidade linguística e cultural. O português é a língua oficial, mas a Língua Brasileira de Sinais, diversas línguas indígenas e outras línguas de imigração são faladas em diferentes regiões do país.

 

Nesse cenário, a Educação Bilíngue tem se mostrado essencial para garantir uma educação mais justa e inclusiva, considerando que muitos estudantes têm o domínio de mais de uma língua desde cedo. No entanto, a Educação Bilíngue no Brasil ainda enfrenta desafios para oferecer práticas pedagógicas que valorizem plenamente a diversidade e o repertório linguístico dos estudantes.

 

Mas, afinal, o que é translinguagem?

Translinguagem é uma abordagem educacional que reconhece a diversidade linguística como um ativo valioso em sala de aula. Ao contrário da abordagem tradicional – que tende a separar rigidamente os idiomas e limitar a utilização deles em contextos específicos –, a translinguagem permite que os estudantes utilizem seus repertórios verbo-visuais de maneira flexível e integrada, proporcionando recursos semióticos para a inserção e a participação ativa desses sujeitos em seu meio social.

 

A aplicação da translinguagem na Educação Bilíngue implica a criação de ambientes de aprendizagem que acolham e respeitem as múltiplas línguas presentes na sala de aula e na sociedade e “contribui para a formação de cidadãos mais preparados para atuar em uma sociedade globalizada e multicultural” (García, 2009). Os educadores devem incentivar os estudantes a utilizar todo seu repertório para expressar ideias, fazer perguntas e debater conceitos. Essa abordagem “possibilita que os estudantes se sintam pertencentes ao ambiente escolar, fortalecendo sua autoestima e motivando-os a participar ativamente das atividades acadêmicas” (Cummins, 2007).

 

E quais os benefícios da translinguagem na Educação Bilíngue?

A adoção da translinguagem na Educação Bilíngue traz diversos benefícios para os estudantes e para o ambiente escolar. Além de promover a inclusão e equidade, essa abordagem contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades presentes na BNCC, como comunicação, repertório cultural, pensamento crítico e argumentação.

 

Mesmo com os benefícios evidentes, a implementação da translinguagem na Educação Bilíngue no Brasil pode enfrentar desafios – como a falta de formação adequada para os educadores e a necessidade de material didático adequado que incorpore a diversidade linguística dos estudantes. É essencial que os gestores educacionais e os educadores apoiem e promovam a translinguagem como uma abordagem valiosa e que muito contribui para o desenvolvimento integral dos estudantes nas escolas bilíngues.

 

Por fim, a translinguagem na Educação Bilíngue é uma poderosa estratégia para promover a inclusão e a equidade dos estudantes, valorizando a diversidade linguística e cultural. No contexto da realidade educacional brasileira, essa abordagem se mostra ainda mais relevante, considerando a rica variedade de idiomas falados no país. Ao reconhecer e respeitar o repertório linguístico dos estudantes, a translinguagem contribui para uma educação mais inclusiva, igualitária e enriquecedora, preparando os estudantes para enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais globalizada.

 


 

Referências

Brasil. (2017). Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394/1996.

 

Brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.

 

Cummins, J. (2007). Rethinking Monolingual Instructional Strategies in Multilingual Classrooms. Canadian Journal of Applied Linguistics, 10(2), 221-240.

 

Educação bilíngue no Brasil / organização Antonieta Megale ; prefácio Ofelia García. –
São Paulo : Fundação Santillana, 2019.

 

García, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.

 


 

Nelson Peixoto

Nelson Peixoto

Assessor pedagógico do Be - Currículo Bilíngue. Curioso, inquieto e cinéfilo, além de professor de História e Inglês. Atua na Educação Bilíngue há 17 anos, com sólida experiência em sala de aula, coordenação, assessoria e mentoria pedagógica, contribuindo para o desenvolvimento de educadores em todo o Brasil.

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