10 sinais de maturidade profissional na docência

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“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele.”

Paulo Freire

Ser professor no Brasil é padecer no paraíso. Ainda que todos concordemos com a importância desse ofício, sabemos bem dos desafios que o cercam, independentemente da agência em escolas públicas ou particulares.

Há muita expectativa acerca desse profissional. Qual é a formação? Quanto tempo tem de experiência? Onde? O que produz para além das aulas? Sem contar a temida, porém comum pergunta sobre o que fazemos “além de dar aulas”.

No Brasil, enfrentamos  inúmeros desafios, desde a falta de recursos até a desvalorização da carreira. No entanto, existem profissionais que se destacam pela maturidade profissional na docência, evidenciando um compromisso e uma dedicação notáveis. 

Neste artigo, apresento 10 sinais de maturidade profissional na docência no Brasil que venho observando ao longo da carreira. Eles podem ser um bom termômetro para os educadores engajados no autodesenvolvimento como forma de autoavaliação e de pensar em planos de ação. 


Mas, antes, o que é “maturidade profissional”?

A maturidade profissional pode ser definida como um estágio de desenvolvimento no qual o profissional apresenta um conjunto de competências e características que o tornam apto a lidar com os desafios e as demandas da sua área de atuação.

No contexto da docência, a maturidade profissional engloba não apenas o conhecimento pedagógico, mas também a postura ética, emocional, consciente da sua incompletude e reflexiva perante a profissão.

Esse conceito de maturidade está diretamente relacionado ao domínio técnico do trabalho, à capacidade de lidar com situações complexas, à autonomia nas tomadas de decisão e à responsabilidade pelos resultados alcançados. Envolve também a habilidade de se adaptar a mudanças, de lidar com pressões e contratempos, de trabalhar em equipe e de buscar continuamente o aprimoramento e o crescimento profissional.

Portanto, podemos entender que a maturidade profissional não está, necessariamente, conectada à maturidade de vida e ao tempo de carreira. Embora a maturidade profissional e a maturidade de vida estejam interligadas, elas se distinguem em abrangência e foco.

Como vimos, a maturidade profissional concentra-se especificamente nas competências e habilidades necessárias para o desempenho eficaz de um trabalho ou profissão, enquanto a maturidade de vida abrange um espectro mais amplo de aspectos que afetam a vida de uma pessoa como um todo.

Com isso entendido, vamos refletir sobre os 10 sinais de maturidade profissional na docência. 

  1. Autonomia e responsabilidade 

Um educador maduro profissionalmente assume a responsabilidade pelo seu trabalho, buscando constantemente aprimorar suas habilidades e seus conhecimentos. Ele é capaz de tomar decisões de forma autônoma e assumir a responsabilidade pelos resultados obtidos. Errar é humano; o educador é humano.

Então, assumir erros possíveis fortalece essa maturidade. Lembrem-se de que a resolução dos erros não precisa ser encontrada solitariamente; é preciso pedir ajuda na maioria das vezes. E não há problema algum nisso. 

  1. Atualização constante 

Educadores maduros estão sempre em busca de atualização e aprendizado. Eles participam de cursos, workshops e eventos relacionados à educação, mantendo-se atualizados sobre as melhores práticas pedagógicas e as últimas pesquisas na área. É fato que a carga horária de trabalho muitas vezes parece inviabilizar esses movimentos.

Contudo,  essa sensação, geralmente, vem de espaços nos quais esse objetivo não está bem definido, ou seja, o profissional considera atualizar-se para o outro ou porque os outros estão nesse caminho, e não por entender que precisa se dedicar a compreender mais e melhor uma determinada temática. Entender se é ou não o momento de se envolver com oportunidades de atualização para depois planejá-lo também é sinal de maturidade profissional. Às vezes não é, realmente, possível.

  1. Reflexão sobre a prática 

A maturidade profissional na docência implica refletir sobre a própria prática e buscar constantemente a melhoria. Educadores maduros são capazes de analisar criticamente suas ações, identificar pontos fortes e áreas que precisam de aperfeiçoamento e ajustar suas estratégias de ensino de acordo com os resultados obtidos.

Além disso, esses profissionais colocam-se abertos à percepção de outros que tenham o objetivo de auxiliá-los (e não de julgá-los de modo descontextualizado!), como a coordenação e a assessoria pedagógica.

  1. Flexibilidade e adaptação 

O contexto educacional está em constante mudança, mas educadores maduros são capazes de se adaptar a essas mudanças. Eles estão abertos a experimentar novas abordagens pedagógicas, utilizar recursos tecnológicos e se adaptar às necessidades individuais dos estudantes. Como instituições autônomas, as escolas têm a prerrogativa de optar por caminhos específicos.

Cabe ao profissional maduro entender essas escolhas como oportunidades de expansão de repertório profissional ou buscar alternativas que se aproximem das concepções de educação que constituem suas práticas de conforto.

  1. Colaboração e trabalho em equipe 

Educadores maduros reconhecem o valor da colaboração com seus colegas. Eles sabem que não fazemos Educação sozinhos! Quando maduros, esses profissionais compartilham ideias, experiências e recursos, promovendo um ambiente de trabalho colaborativo e enriquecedor. Eles são abertos e dispostos a pelo menos pensar sobre o diferente, o divergente, o novo. 

  1. Empatia e respeito 

Educadores maduros valorizam a individualidade dos estudantes e cultivam a empatia em sala de aula. Isso também se estende aos colegas de trabalho, indiferentemente da posição que ocupam. Eles são sensíveis às necessidades emocionais do outro e buscam estabelecer uma relação de respeito e confiança com todos.

Para que a Educação cumpra seu papel humano, é óbvio que esse exercício precisa acontecer nas duas vias e, não sendo possível por meio de diálogos abertos e claros, talvez faça parte do amadurecimento profissional o educador refletir e/ou perceber se é a pessoa certa no lugar não certo.  

  1. Disciplina e organização 

A maturidade profissional na docência também se manifesta na disciplina e na organização do educador. Educadores maduros são pontuais, cumprem prazos, planejam aulas com antecedência e mantêm um ambiente em sala de aula organizado e propício à aprendizagem.

O mesmo ocorre nos outros âmbitos da docência: interação com a coordenação e a gestão, com os demais educadores, com os parceiros da escola, bem como com os estudantes e com as famílias. 

  1. Senso de propósito

Educadores maduros têm um forte senso de propósito em relação à profissão. Eles acreditam no poder transformador da educação e estão comprometidos em formar cidadãos conscientes e críticos. Além disso, por estarem abertos àquilo que muitas vezes lhes é “estranho”, esses profissionais veem no novo a oportunidade de se transformar também. Eles sabem que não podemos seguir acreditando que somos os únicos responsáveis pela transformação da Educação, que, como já foi dito, não se faz com uma única pessoa.

  1. Resiliência 

 Não pretendo romantizar esse conceito que parece ser a buzzword. Acredito, no entanto, que a docência pode ser uma profissão desafiadora; e que a resiliência é uma característica importante dos educadores maduros que compreendem seu propósito pela escolha que fizeram ao comprometer-se com a docência.

Em tempos de burnout e demandas extravagantes, os educadores maduros são capazes de lidar com as adversidades e superar os obstáculos, mantendo o foco em seus objetivos educacionais e respeitando-se como profissionais e como seres humanos. 

  1. Liderança educacional 

No Brasil, somos culturalmente levados a crer que a liderança se restringe àquele que ocupa uma posição acima da nossa. No entanto, todos somos líderes, já que somos seres pensantes comprometidos com a transformação do entorno. Educadores maduros podem exercer um papel de liderança na escola e nas comunidades educacionais.

Por se colocarem abertos e compartilharem seus conhecimentos e experiências, influenciam positivamente os colegas e contribuem para o desenvolvimento da educação em um âmbito mais amplo, que atinge diretamente as famílias e os estudantes.

Não poderia concluir este artigo sem deixar bem claro que desenvolver maturidade profissional na docência é um processo, não um fim. Assim como tudo na Educação, é de peito e mente abertos e de mãos dadas que promovemos uma jornada sustentável e humana com vistas à nossa formação, que será sempre contínua.

A maturidade profissional na docência no Brasil é evidenciada por um conjunto de sinais que vão além do domínio do conteúdo. Educadores maduros são profissionais comprometidos, atualizados, reflexivos e flexíveis, que cultivam a empatia, a disciplina e a resiliência. Mas atenção: em nada essas características têm a ver com a romantização de processos e ambientes que possam ser abusivos e descomprometidos com a essência transformadora da Educação.

Docentes maduros são agentes de transformação na educação, trabalhando com propósito e liderando pelo exemplo, inclusive daquilo que ainda não sabem, mas que buscam aprender. Refletir sobre esses sinais, valorizar e incentivar essas características, tudo é essencial para promover uma Educação de qualidade no país.

Pedro Brandão

Pedro Brandão

Head pedagógico do Be - Currículo Bilíngue. Formado em Letras pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e pelo Marietta College (EUA). Especialista em Educação Bilíngue pelo Instituto Singularidades, com certificado CELTA pela Stafford House (UK). Educador há 18 anos, com experiência em docência, coordenação, assessoria pedagógica e gestão escolar em centros de idiomas, escolas bilíngues e internacionais (IB). Educador e formador de educadores em escolas brasileiras de ensino básico, da Educação Infantil ao Ensino Médio.

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